Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais hoje (01/11/2019)

MANCHETES

O Globo

Eduardo sugere ‘novo AI-5’, é repreendido e se desculpa
Incêndios no Pantanal crescem 462% este ano
Por 1º emprego, governo reduzirá encargos em 30%
Rio tem 2ª pior gestão fiscal entre capitais
Sai acordo que passa ao estado o Sambódromo
Para Macri, falas de Bolsonaro são ‘inapropriadas’
Partido Novo suspende filiação do ministro Ricardo Salles
Câmara dos EUA aprova regras de investigação contra Trump

O Estado de S. Paulo

Repúdio a fala sobre ‘novo AI-5’ obriga Edudardo a se desculpar
Perícia sobre menção a Bolsonaro foi feita em 2h25
Governo quer novo servidor no regime da CLT
Infecção por sarampo abre brecha para outras doenças
Partido Novo suspende ministro Ricardo Salles
Grupos pró e contra aborto montam vigília em hospital
Fusão Fiat e PSA cria quarta maior montadora
Uruguai pede explicação sobre frase de Bolsonaro
Vento reaviva fogo na Califórnia e prejuízos chegam a US$ 25 bi
Avança processo de impeachment de Donald Trump

Folha de S. Paulo

Congresso e partidos reagem a fala de Eduardo Bolsonaro sobre AI-5
Presidente cancela assinaturas da Folha e ameaça anunciantes
Promotoria não avaliou eventual adulteração em sistema da portaria
Promotora do caso Marielle, Carmen Carvalho fez campanha em 2018
Argentina repudia fala de Bolsonaro após eleição local
Governo não convocou técnicos do Ibama especialistas em óleo
Guedes quer usar fundos para abater R$ 220 bi de dívida
Fiat Chrysler e Peugeot Critroen acordam fusão
Religiosos fazem vigília antiaborto diante de hospital
Serviço clandestino de corte de árvore se espalha em SP
Câmara dos EUA formaliza pedido de impeachment

Valor Econômico

Governo prevê corte linear de 10% em incentivos fiscais
Aquisições e fusões batem recorde no país
Eduardo pede ‘AI-5’ e partidos exigem punição
Para crescer, Magazine Luiza faz oferta de R$ 5 bi em ações
Só 0,5% das melhores notas do Enem são de estudantes pobres
Discriminação religiosa custa caro a empresas

EDITORIAIS

O Globo

O merecido repúdio a Eduardo Bolsonaro

A defesa do AI-5, depois de falar em fechar o STF, indica que deputado não tem noção do seu papel

O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) não aprendeu a lição. Antes da posse do pai como presidente da República, o filho 03, em evento aberto ao público, deu sua fórmula para o fechamento do Supremo Tribunal Federal: “um soldado e um cabo”. O pai tratou a gafe, digamos, como um escorregão juvenil.

Já a ameaça inaceitável que o deputado, filho do presidente, fez da volta do AI-5, em entrevista ao programa “Brasil Urgente”, da jornalista Leda Nagle, não deve ser encarada como mais um deslize imaturo.

O deputado acenou com a impensável reedição do AI-5 como reação a movimentos de esquerda que radicalizariam na esteira da volta de Cristina Kirchner ao poder na Argentina, como vice de Alberto Fernández, e no vácuo das manifestações violentas no Chile.

Na visão persecutória de Eduardo Bolsonaro, o Brasil retornaria ao final dos anos 60, “quando sequestravam aeronaves, quando se executavam e sequestravam grandes autoridades, cônsules, embaixadores, (executavam-se) policiais, militares”. Um delírio, diante da solidez das instituições democráticas brasileiras.

Falta, no mínimo, um conhecimento básico de História, para este Bolsonaro entender a diferença, para melhor, entre o Brasil de dezembro de 1968, quando o AI-5 foi editado pela ditadura militar, e o de hoje, da democracia. O risco é a overdose de ideologia afetar a capacidade de compreensão.

Devido à reação que provocou ao se referir de forma mais do que inadequada ao STF, Eduardo já deveria saber que o respeito a essas instituições precisa ser absoluto, portanto, não podem ser afrontadas, principalmente por homens públicos. O próprio clamor contra o que disse sobre o STF deveria alertá-lo que entrara em terreno minado.

A liberdade de expressão é garantida pela Constituição, e os parlamentares têm imunidades. Mas não estão livres da execração pública, nem de enfrentar desdobramentos regimentais de suas atitudes.

Não demorou para a oposição anunciar que encaminhará à Comissão de Ética pedido de cassação do deputado, por quebrar o juramento que fez de defender a Constituição. PSOL, PT, PCdoB e PSB também entrarão no STF com representação criminal.

Acertadamente, os presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, emitiram notas de repúdio às declarações do 03. O pai, recém-desembarcado do exterior, não foi tão magnânimo como no caso do STF, ficou no comentário de que quem fala na volta do AI-5 “está sonhando”. Depois, o deputado se retratou com um pedido de “desculpas”. Saiu-se com a velha explicação de ter sido “mal interpretado”.

Deve fazer bem mais do que isso: precisa ter noção da função que exerce e do peso das relações de parentesco. Já precisaria perceber o tamanho da sua responsabilidade. Afinal, seria nomeado pelo pai embaixador em Washington. Demonstrou que não estava mesmo à altura do posto.

O Globo

Ação com 17 mortos em Manaus expõe letalidade das polícias do país

Estudos mostram que aumento dos autos de resistência não tem relação com queda de homicídios

Dezessete pessoas morreram na madrugada de quarta-feira, em Manaus, durante uma ação da PM. O comandante-geral da corporação, Ayrton Norte, disse que as vítimas integravam uma quadrilha que tentou atacar uma facção rival. Todas as mortes teriam ocorrido em confronto, mas nenhum policial ficou ferido. Ao comentar o fato, o secretário de Segurança do Amazonas, Louismar Bonates, afirmou que “a polícia não mata, a polícia intervém tecnicamente”.

A ação letal da polícia na capital amazonense não constitui caso isolado. O aumento dos autos de resistência (mortes em confronto com a polícia) tem sido uma tendência em quase todo o pais, a pretexto de se combater a criminalidade. Segundo o Anuário 2019 do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, no Rio de Janeiro os óbitos decorrentes de intervenções policiais representam 23% das mortes violentas. Em São Paulo, são 20%; em Goiás, 16%; no Pará, 14%, e no Paraná, em Sergipe e na Bahia, 13%, todos acima da média do país (11%).

Esse fenômeno segue na contramão da bem-vinda redução do número de homicídios. Segundo o Anuário, das 27 unidades da Federação, apenas quatro não conseguiram baixar os índices de mortes violentas entre 2017 e 2018: Roraima, Tocantins, Amapá e Pará. Em todas as outras, as quedas variaram de 3,1% (Rio) a 25,1% (Acre). No país, foi de 10,8%.

Porém, não se deve pensar que uma coisa tem relação com a outra. Ou seja, não é porque as polícias estão matando mais que os homicídios estão caindo. O Anuário mostra, por exemplo, que entre os nove estados com as maiores proporções de óbitos em intervenções policiais, cinco ficaram abaixo da média nacional de redução de mortes violentas. No Pará, onde os autos de resistência tiveram aumento de 72,9%, os assassinatos cresceram 0,9%.

Por outro lado, estados que conseguiram conter a letalidade policial, como Distrito Federal, Acre, Rondônia e Maranhão, tiveram sucesso também na redução dos homicídios.

Esses números colocam as polícias brasileiras entre as mais letais do mundo, comparáveis, por exemplo, à de El Salvador, onde os índices de violência são bem maiores que os nossos.

Aliada a fatores como o aumento dos registros de novas armas e os sucessivos ataques ao Estatuto do Desarmamento, essa letalidade policial compõe um cenário explosivo.

É importantíssimo que os estados estejam conseguindo reduzir suas taxas de homicídio. Mas a violência precisa ser combatida em sua totalidade, e isso significa baixar também as mortes em confronto. Enquanto isso não ocorrer, continuaremos distantes dos padrões civilizatórios.

O Estado de S. Paulo

O resgate da confiança

A democracia torna-se insustentável sem confiança, especialmente nas instituições. Mais do que nunca, é preciso resgatar a confiança nas instituições de poder

A democracia torna-se insustentável sem confiança, especialmente nas instituições. Se os cidadãos se convencem de que a lei não vale para todos, de que a política é sinônimo de corrupção e de que a imprensa deixou de ser um mediador fidedigno do que acontece, cria-se uma atmosfera de frustração com o regime democrático, que pode levar a sociedade à anomia – e, no limite, a aceitar ou mesmo desejar soluções autoritárias. Assim, mais do que nunca, é preciso resgatar a confiança nas diversas instituições de poder numa democracia, como salientaram vários dos participantes do “Estadão Summit Brasil – O que é Poder?”, realizado na quarta-feira passada em São Paulo.

Numa sociedade que se pretende livre, o exercício do poder, em suas múltiplas instâncias, só se viabiliza se for um empreendimento coletivo, o que pressupõe a aceitação da legitimidade dos diversos atores políticos. Esse empreendimento demanda um debate público constante, que não se limita ao Congresso nem às campanhas eleitorais. Neste momento em que o poder se encontra tão fragmentado, graças às várias formas de expressão postas à disposição pelo mundo digital, o desafio é dar um sentido ao debate para torná-lo proveitoso para o conjunto da sociedade, e esse é o papel – e o grande desafio – da imprensa profissional, como salientou o diretor-presidente do Grupo Estado, Francisco Mesquita Neto, na abertura do encontro, que reuniu personalidades de diversos campos.

A mensagem mais potente do evento é a de que a turbulência que o Brasil atravessa, malgrado seus riscos e ameaças intrínsecos, é igualmente uma oportunidade única para melhorar as relações entre os cidadãos e destes com as instituições democráticas. Para isso, é preciso que todos os líderes e empreendedores interessados na superação da crise e no aprimoramento da democracia atuem mais concretamente no sentido de recuperar a credibilidade dos poderes instituídos e os valores republicanos.

O momento é ideal. Bem ou mal, como lembraram vários participantes do “Estadão Summit Brasil”, poucas vezes na história recente se falou tanto em política e também de direito, ainda que não exatamente de maneira positiva. Não é mais possível ignorar, por exemplo, que a desconfiança generalizada dos cidadãos resulta em parte da sensação de que a lei não vale para todos e de que aos poderosos é reservada uma interpretação mais benevolente da lei. Essa percepção de que as regras são aplicadas somente para os cidadãos comuns mina a disposição de aceitar as autoridades constituídas. Do mesmo modo, há uma perigosa frustração de expectativas, isto é, um abismo entre o que é prometido pelos políticos e o que o Estado é capaz de entregar aos eleitores, o que resulta em contestação da própria política.

Os interessados em resgatar a confiança nas instituições devem lutar para que a política recupere sua utilidade como ferramenta de negociação legítima entre partes com vontades divergentes, para que o Estado seja eficiente e traduza os verdadeiros anseios da sociedade. Devem, igualmente, zelar para que haja segurança e estabilidade jurídica, para que nenhum cidadão esteja acima da lei.

Nesse esforço, a imprensa, hoje sob intenso ataque de governantes e movimentos autoritários, deve recuperar seu papel de guardiã e curadora dos fatos concretos e relevantes, sem os quais não se formulam políticas públicas consistentes nem os cidadãos são capazes de se orientar e tomar decisões importantes para suas vidas.

Tal empreendimento não pode prescindir da ajuda das empresas de tecnologia que controlam as redes sociais. Mais do que nunca, essas companhias gigantescas devem assumir suas responsabilidades na luta em favor da verdade e da imprensa livre e responsável, agindo com presteza contra os que abusam da liberdade e atentam contra a democracia ao disseminar mentiras, estimular o ódio e destruir os laços de solidariedade que caracterizam as sociedades civilizadas.

Não é um problema menor. Num ambiente intoxicado de extremismo, o exercício do poder democrático, que representa o ponto de convergência dos mais diversos atores políticos da sociedade, torna-se simplesmente impossível.

O Estado de S. Paulo

Empurrão é com o BC

A principal fonte oficial de estímulo à atividade econômica tem sido, no Brasil, o comitê responsável pela política de juros

Economia emperrada, com desemprego elevado, consumo fraco e indústria em marcha lenta, compõe a maior parte do cenário do novo corte de juros decidido pelo Copom, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (BC). Reduzida de 5,5% para 5% ao ano, a taxa básica de juros, a Selic, chegou ao nível mais baixo desde março de 1999, quando se tornou o principal instrumento de gestão da moeda e do crédito. A decisão foi anunciada no começo da noite de quarta-feira. Menos de 24 horas depois outro recorde foi noticiado: 24,4 milhões de trabalhadores por conta própria no trimestre encerrado em setembro. Tsunami de empreendedorismo no Brasil ou mais um efeito da desastrosa situação do mercado de emprego?

A principal fonte oficial de estímulo à atividade econômica tem sido, no Brasil, o comitê responsável pela política de juros. A taxa básica foi cortada três vezes neste ano, passando nesse período de 6,50% para 5%. A primeira redução ocorreu em 31 de julho. A redução foi justificada, em cada reunião do Copom, como necessária para estimular a economia. Em todos os casos, houve referência à ampla ociosidade dos meios de produção – máquinas, equipamentos, instalações e mão de obra. A menção teve sempre dupla finalidade.

A primeira foi sempre ressaltar o baixo risco associado à diminuição do custo do dinheiro. Com muita capacidade subutilizada, as empresas poderiam ampliar produção e vendas sem ocasionar grande pressão inflacionária. Essa condição permanece. A inflação projetada para todos os anos até 2022 está abaixo de 4%, como assinala a nota do Copom.

Mantido esse quadro, haverá, a curto prazo, espaço para mais um estímulo “de igual magnitude”, segundo o comunicado. Em dezembro, portanto, a taxa básica poderá chegar a 4,50%. Esse nível poderá ser mantido por um prazo imprevisível neste momento.

O segundo objetivo da menção à ampla ociosidade foi justificar a redução de juros como necessária à reativação da economia. Têm sido notados efeitos positivos desde os primeiros cortes da taxa básica. A redução começou no último trimestre de 2016, quando a Selic estava em 14,25%. O capital de giro tornou-se mais barato, como assinalou mais de uma vez a Confederação Nacional da Indústria (CNI), e houve moderado impulso ao consumo. Esses efeitos marcaram o início da recuperação em 2017 e em parte de 2018. Além disso, juros básicos menores têm reduzido o custo da dívida pública.

Mas a economia perdeu vigor já no meio de 2018 e ficou ainda mais fraca neste ano, apesar das boas expectativas em relação ao novo governo.

Quanto ao governo, passou o primeiro semestre sem mostrar preocupação com o desemprego de mais de 12,5 milhões e a piora da indústria. O primeiro estímulo – modesta liberação de recursos do Fundo de Garantia e do PIS-Pasep – só começou em setembro.

O quadro poderá agravar-se, com desarranjo das expectativas de inflação, se ocorrer choque externo importante ou se houver menor segurança quanto aos ajustes e reformas. Por enquanto, o quadro externo permanece razoavelmente benigno, apesar das tensões comerciais. Além disso, as políticas monetárias continuam frouxas no mundo desenvolvido, como assinala a nota do BC. Ainda na quarta-feira o Federal Reserve (Fed), o BC americano, cortou novamente os juros, desta vez do intervalo de 1,75% a 2% anuais para a faixa de 1,50% a 1,75%. Haverá provavelmente uma pausa nos cortes, segundo deram a entender os diretores do Fed.

Incentivos dos bancos centrais parecem ter chegado ao limite no mundo rico. Novos incentivos devem provir da política fiscal, dizem dirigentes desses BCs e do Fundo Monetário Internacional. No Brasil, contas públicas ainda muito ruins impedem esse remédio. Juros menores nos bancos federais, especialmente para crédito imobiliário, poderão ajudar. O ministro da Economia, Paulo Guedes, mostra otimismo quanto ao quadro geral e anuncia para 2020 o dobro do crescimento de 2019. Será o dobro de 1% ou de algo ainda menor.

O Estado de S. Paulo

Twitter na direção certa

Empresa banirá o chamado impulsionamento de postagens de conteúdo político. A mensagem é alvissareira

O presidente executivo do Twitter, Jack Dorsey, anunciou que a partir de 22 de novembro a empresa banirá o chamado impulsionamento de postagens de conteúdo político em sua plataforma. Por “impulsionamento” entenda-se o pagamento para que determinada mensagem chegue a um número maior de pessoas. “Nós acreditamos que o alcance de uma mensagem política deve ser conquistado, e não comprado”, escreveu Dorsey em sua conta na rede social. A mensagem é alvissareira. Ela indica uma nova direção para o debate público na chamada esfera digital. Uma direção que, antes de tudo, resgata o valor da verdade factual.

A medida valerá para todos os países onde o Twitter está presente. No Brasil, deverá ter impacto positivo na qualidade do debate político no curso da campanha eleitoral de 2020. Será igualmente sentida nos Estados Unidos, onde haverá eleição presidencial no ano que vem. O país tem o maior número de usuários do Twitter, cerca de 48 milhões. O Brasil é o sexto colocado, com cerca de 8,3 milhões de pessoas físicas, empresas e instituições registradas.

O anúncio da medida é um refrigério para a alma dos que prezam a honestidade intelectual e o reconhecimento da verdade factual como o mínimo denominador comum de qualquer debate político que se pretende sério em uma sociedade democrática. Que as versões possam ser mais apetitosas do que os fatos – e por essa razão sejam exploradas em nome dos mais variados interesses – não é novidade. O que assombra é a desenvoltura com que se nega ou se distorce a verdade factual na era da informação digital.

Os avanços tecnológicos e a massificação do acesso à internet, em especial às redes sociais como o Twitter, mudaram para sempre a forma de relacionamento entre as pessoas, entre os cidadãos e as instituições, entre a sociedade e o Estado. No que concerne à circulação de informações, as redes sociais passaram a exercer um papel de moderação que antes era restrito à imprensa e a outros setores da sociedade civil, como os partidos políticos, os sindicatos e as igrejas.

O controle de qualidade da informação exercido por essas organizações impõe, antes de tudo, o respeito pela verdade factual como norte incontornável, em especial no caso da imprensa, que tem deveres legais e morais a observar no exercício do nobre ofício de lançar luz sobre as questões mais importantes para a sociedade. Já no ambiente livre da internet esse controle é frouxo.

Se, por um lado, muitos atores sociais relevantes passaram a contar com um espaço para difusão de suas reflexões do qual não dispunham antes das redes sociais, por outro lado, é pela estrada digital que trafegam todos os dias as mais estapafúrdias ideias e mentiras, chegando a um número cada vez maior de pessoas.

Inegavelmente, a falta de anteparos que contenham a circulação de mentiras e distorções nas redes sociais é uma das maiores ameaças à democracia para as sociedades do século 21. Votos podem ser decididos com base em informações falsas disseminadas por meio das redes sociais. A medida em boa hora anunciada pelo Twitter ergue-se como um desses importantes anteparos. A empresa tem 600 milhões de usuários no mundo.

As postagens no Facebook atingem um número ainda maior: 2,45 bilhões de usuários, cerca de um terço da população mundial. Porém, o presidente da companhia, Mark Zuckerberg, tem uma visão diametralmente oposta à de Jack Dorsey. Para ele, não cabe ao Facebook controlar o que é verdade ou mentira porque isso, em sua visão, seria uma “violação da liberdade de expressão”. Mas qual o valor dessa liberdade quando ela é usada para desviar as pessoas da verdade factual, levando-as a tomar decisões com base em mentiras?

O Twitter junta-se à rede CNN para atestar que não vale tudo nas disputas políticas (ver editorial Os limites da luta política, publicado em 14/10/2019). É uma importante e pertinente mensagem. Não há liberdade plena sob império da mentira.

Folha de S. Paulo

Novo ataque

Eduardo Bolsonaro deve responder por declarações antidemocráticas

Dois dias após o pedido de desculpas de Jair Bolsonaro (PSL) por um vídeo em que, exibido como um leão, o presidente era atacado por hienas que representavam o STF, partidos políticos e instituições da sociedade civil, o filho do mandatário, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, surgiu com uma nova afronta à democracia brasileira.

Desta vez, o chamado 03 propôs a reedição de algo como o infame Ato Institucional nº 5, de 1968, marco do período mais duro da ditadura militar, para casos em que a esquerda brasileira “radicalizar” e promover manifestações pelo país.

Em entrevista publicada na internet, Eduardo Bolsonaro disse que a medida seria “a resposta” para uma eventual —e que hoje parece delirante— onda de protestos que ameaçasse o governo de seu pai.

Não foi a primeira vez que um membro da família Bolsonaro, incluindo o próprio presidente, teve rompantes autoritários. Desta vez, porém, ao evocar um decreto radical do passado que deixou um saldo de cassações e direitos políticos suspensos, o deputado provocou inédita reação no Congresso.

Enquanto o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), qualificou as manifestações de Eduardo como “repugnantes”, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), disse que o episódio é uma “inadmissível afronta à Constituição”.

Na mesma hora em que essas lideranças reagiam, no entanto, Eduardo voltou à carga e insistiu na exaltação à ditadura militar publicando um vídeo em rede social em que seu pai elogia o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, um dos símbolos da repressão.

Eduardo Bolsonaro não é só filho do presidente da República. Ele é deputado federal, líder do governo na Câmara e presidente da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional —e até uma semana atrás almejava ser embaixador do Brasil nos EUA.

Como defendeu ontem Rodrigo Maia, é imperioso que o deputado Eduardo seja agora alvo de punição por sua “apologia reiterada a instrumentos da ditadura” —nas palavras do próprio presidente da Câmara dos Deputados.

Nesse sentido, foi inútil tanto a reação subsequente do presidente ao dizer que não apoia a fala do filho como o próprio recuo de Eduardo. O deputado deveria ser, mesmo assim, levado ao Conselho de Ética da Câmara para responder pelas suas declarações.

O outro aspecto extraordinário desse lamentável episódio é como já virou padrão no clã Bolsonaro produzir fatos ruidosos como esse a cada vez que investigações envolvendo a família ganham relevo na polícia e no noticiário. Repetido à exaustão, o truque barato só chama cada vez mais a atenção.

Folha de S. Paulo

Pressão na saúde

Aumento das internações psiquiátricas preocupa e desafia o sistema

As internações psiquiátricas estão crescendo e já pressionam tanto a rede pública de saúde como a privada, segundo duas reportagens recentes desta Folha sobre o tema.

A primeira mostrou que as internações no modelo hospital-dia cobertas pelos planos de saúde triplicaram entre 2012 e 2018, saltando de 32 mil para quase 100 mil. A segunda revelou que o fenômeno não poupa nem as crianças.

A taxa de hospitalização de jovens entre 10 e 14 anos por causas psiquiátricas passou de 14 para 19 por 100 mil habitantes em cinco anos. Tentativas de suicídio foram determinantes para esse aumento.

Na rede privada, a atenção a transtornos mentais, consideradas internações e consultas em todas as modalidades, representou 27,4% dos atendimentos prestados pelas operadoras em 2018. Eram 16,3% em 2012.

Na rede pública, a situação é ainda mais dramática, pois há enorme demanda reprimida pela insuficiência dos serviços disponíveis.

Se a medicina já é marcada pela complexidade, na psiquiatria tudo é ainda mais complicado —e isso inclui a interpretação dos números. O forte aumento nos atendimentos não significa, necessariamente, que o mundo esteja enlouquecendo. Há vários movimentos em curso, nem todos negativos.

Parte do aumento se explica pelo fato de pessoas já não se sentirem tão envergonhadas em procurar ajuda psiquiátrica, o que é bom. Há também motivos para acreditar que as estatísticas melhoraram.

Por preconceito, eventos como tentativas de suicídio eram rotineiramente subnotificados, e os pacientes podiam acabar sem receber o tratamento adequado.

Do lado menos brilhante, há provavelmente algum nível de superdiagnóstico —critica-se muito a banalização da depressão, por exemplo— e é bastante verossímil que a prevalência de pelo menos alguns dos transtornos mentais tenha de fato aumentado. O suicídio entre jovens é especialmente alarmante.

Lidar com essa situação num momento de crise, em que os recursos públicos são cada vez mais escassos e em que as operadoras privadas perdem clientes, não é fácil.

No SUS, é imprescindível otimizar o funcionamento da rede, para reduzir a demanda reprimida. A prevenção, muitas vezes difícil nessa área, é outro vetor relevante.

Mas o fato é que a maior demanda por serviços de saúde mental é algo que veio para ficar. O sistema terá de aprender a lidar com isso.

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