Para Roberto Freire, Jair Bolsonaro trata a cultura como estorvo

Em entrevista ao site Congresso em Foco na semana passada, presidente do Cidadania cobrou do presidente uma gestão melhor da área cultural (Foto: Robson Gonçalves)

“Bolsonaro trata cultura como estorvo”, diz ex-ministro Roberto Freire

Lauriberto Pompeu – Congresso em Foco

Os ex-ministros da Cultura no governo de Michel Temer (MDB) Roberto Freire e Sérgio Sá Leitão criticaram nesta quinta-feira (7) ao Congresso em Foco o governo do presidente Jair Bolsonaro pela gestão da área.

“O problema está menos em você ficar brincando como se fosse um ioiô, bota aqui, tira daqui, bota ali, bota fundamentalista religioso ou não… É menos esses aspectos e muito mais uma compreensão, concepção, uma visão. Cultura para esse governo Bolsonaro é um estorvo”, disse Freire.

Nesta quinta-feira a secretaria nacional da Cultura foi transferida do Ministério da Cidadania para o Ministério do Turismo, comandado por Marcelo Álvaro Antônio, suspeito de patrocinar candidaturas laranjas nas eleições de 2018.

No entanto, o ex-ministros evitaram fazer ataques diretos a Marcelo Álvaro e reforçaram que é necessária uma melhor gestão do governo federal como um todo sobre a área.

A partir da gestão de Jair Bolsonaro a área cultural deixou de ter um Ministério próprio. Roberto Freire comandou a pasta de 2016 a 2017.

“Não é apenas a questão da identidade do povo brasileiro, da cultura mundial dos povos, é também hoje um grande alavancador de desenvolvimento econômico e social. É tratado como se fosse um estorvo por esse governo”, afirmou Freire, que também é presidente nacional do Cidadania (ex-PPS).

O ex-ministro não critica a decisão de suspender o Ministério da Cultura e rebaixá-lo a uma secretaria, mas cobra do presidente Bolsonaro uma gestão melhor da área.

“Esse governo não entende o que significa cultura para o país, para o nosso povo. Você poderia fazer todo esse movimento [de extinguir ministério] e ter uma política de prioridade, de efetiva intervenção para desenvolvimento da cultura do país. Tudo isso poderia ser feito em qualquer lugar, Ministério da Educação, da Cultura, depende da política, da compreensão da importância da cultura”, afirmou.

Último a ocupar uma cadeira no Ministério da Cultura, Sérgio Sá Leitão, compartilha da opinião de Freire ao falar que não há diferença sobre quem é o responsável por comandar a área e poupou críticas direcionadas ao ministro do Turismo. “Estrutura governamental não pode ser ‘personograma’. Tem que ser organograma, baseado em eficiência e eficácia da gestão”, disse.

Leitão declarou que não não é ideal a decisão tomada nesta quinta por Bolsonaro:

“Mas se trata de um arranjo melhor do que o anterior, pois há uma evidente convergência entre cultura e turismo. O fundamental é que não haja a subordinação de uma área à outra; e que o governo valorize mais a cultura, respeitando a liberdade de expressão e investindo em seu potencial de contribuição para o desenvolvimento humano e econômico do Brasil”.

Sérgio Sá Leitão foi ministro do ex-presidente Michel Temer (MDB) após a saída de Freire da pasta e ficou no cargo até o fim do mandato do emedebista no dia 31 de dezembro de 2019. Atualmente ele é secretário estadual de Cultura do governador de São Paulo, João Doria (PSDB).

“Cultura e turismo são áreas sinérgicas, que devem caminhar juntas, mas não necessariamente na mesma pasta. Penso que aqui em São Paulo estamos dando um bom exemplo, em programas como o SP Gastronomia, de como a cultura e o turismo podem se fortalecer mutuamente, em ações transversais, mesmo estando em secretarias distintas. A cultura potencializa o turismo e o turismo potencializa a cultura”, afirmou.

Segundo o secretário de Doria a área seria melhor gerida se houvesse um Ministério dedicado somente a isso:

“Sim, considerando a amplitude do assunto e o tamanho da estrutura, com seis secretarias, sete instituições vinculadas e dezenas de equipamentos culturais. Mas há exemplos no exterior de países em que há uma política cultural relevante sem que haja uma pasta exclusiva para a cultura. O fundamental é o grau de prioridade que o governo confere ao assunto”.

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