A democracia vem sendo vilipendiada faz tempo, diz Soninha ao #Suprapartidário

Para a vereadora do Cidadania de São Paulo, não foi Bolsonaro que inaugurou a intolerância de quem pensa diferente, mas o governo do PT (Foto: Reprodução/Facebook)

“Dossiê 2020”: Soninha Francine no #Suprapartidário

O #Suprapartidário dá continuidade a uma série de entrevistas sobre o atual momento do Brasil e as perspectivas para 2020.

Reunimos personalidades da política, dos mais variados partidos e das mais diversas tendências, para responder a uma sequência idêntica de cinco perguntas.

O #Dossiê2020 começou na semana passada com Eduardo Jorge. Hoje é a vez de Soninha Francine.

Vereadora de São Paulo pelo Cidadania, Soninha Francine Gaspar Marmo já foi duas vezes candidata à Prefeitura pelo PPS, secretária municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, subprefeita da Lapa, superintendente da Sutaco (Subsecretaria do Trabalho Artesanal nas Comunidades do Estado de São Paulo) e coordenadora de Políticas para a Diversidade.

Fez Magistério e Cinema na ECA-USP. Jornalista, ex-produtora, redatora e apresentadora da MTV, ex-debatedora do “Saia Justa”, colunista de jornais e revistas, comentarista esportiva no rádio e na TV, escritora, blogueira, cicloativista, budista. Soninha é dona de uma personalidade marcante e singular. Foi eleita para o primeiro mandato de vereadora em 2004 pelo PT. Em 2007, “totalmente desgostosa da orientação geral do partido”, nas palavras dela própria, migrou para o PPS (atual #Cidadania23).

Que momento é esse que o Brasil vive? A democracia corre riscos? Como fazer política diante de tamanho descrédito da população nos partidos e nas instituições?

Compreendendo o descrédito e suas razões… Aceitando as críticas (fundamentadas) à classe política (em vez de nos defendermos obtusamente), e buscando verdadeiramente melhorar nossa conduta (transparência, honestidade, responsabilidade).

A democracia vem sendo vilipendiada faz tempo; Bolsonaro não inaugurou a intolerância a quem pensa diferente. Ela começou a ganhar escala nos anos de governo petista, principalmente depois do segundo mandato do Lula e seu uso pornográfico da máquina pública em favor da eleição de Dilma e seus aliados, do favorecimento “nunca dantes” tão magnífico a grandes grupos empresariais e personagens nefastos de nossa história – ao mesmo tempo em que os adversários eram sempre tratados como inimigos – não só do governo, mas dos pobres, da inclusão, da Justiça Social.

Opor-se ao PT foi equiparado a ser elitista, imperialista, insensível. Aí o pêndulo se movimentou para a outra extremidade e chegamos a Bolsonaro. Apesar disso tudo, de milícias virtuais, de violência moral e física, de abuso de poder e deboche das instituições… Temos eleições, temos instituições resilientes, temos imprensa razoavelmente rebelde, temos até mesmo avanços históricos!!!

Nesse contexto maluco, extremado, observamos avanços na pauta LGBT, por exemplo; no enfrentamento à violência contra a mulher; na normatização sobre uso terapêutico de cannabis. Se sobrevivermos à devastação ambiental, isto é, se sobrevivermos como espécie, a democracia nos acompanhará como uma bendição.

Como enfrentar a atual polarização nas urnas, nas redes e nas ruas? O que propor e como vencer o ódio, o preconceito, a intolerância e as fake news?

As ruas só são polarizadas quando as redes transbordam para elas; quando as urnas estão chegando perto. Eleições culminam, inevitavelmente – a menos que não haja segundo turno – em duas opções se antagonizando. Redes sociais (whatsapp inclusive), até mesmo pela falta de empatia inerente a pessoas que não se vêem enquanto falam, também tornam tudo mais extremado. Mas as ruas, passeatas excluídas, não!

Somos muito mais “misturados” do que internet e eleições fazem parecer. Assim como meninas que cantam músicas evangélicas também vão ao pancadão, quem admira a Janaína Paschoal pode achar o Suplicy um grande cara. Às vezes achamos isso muito incoerente, mas talvez devêssemos achar compreensível, até saudável.

Para vencer a intolerância, só posso recomendar firmeza, paciência e perseverança. Odiar o outro, acusar o outro de fascista, machista etc. não constrói pontes, só aumenta os muros. Prefiro explicar, ouvir, explicar de novo, compreender, tentar demonstrar para o outro que ele pode discordar de mim sem me odiar – tanto quanto eu mesma não o odeio por pensar diferente.

Que situação teremos nas eleições municipais de 2020? Que tipo de diálogo e de composição na política e na sociedade são necessários para garantirmos a eleição de alguém digno para a Prefeitura e para a Câmara Municipal? Existe uma receita?

Acredito que estamos vivendo um momento de transição, em que muitos ainda votam pensando em interesses pessoais e locais (ou muito estreitos), mas um número cada vez maior de pessoas escolhe candidatas e candidatos por afinidade com sua postura, propostas e área de atuação. Do meu primeiro mandato (2005-2009) para esse, a Câmara ganhou muito em diversidade e respeito a divergências. Sintomaticamente, passamos de cinco para onze mulheres na última eleição…

Sendo uma pessoa influente e exercendo incontestável liderança, seu nome sempre é lembrado como opção para as eleições. Qual o seu projeto e as suas expectativas para 2020 e para 2022?

Quero mais um mandato como vereadora, espero conseguir (rs). Talvez seja candidata à Câmara Federal em 2022 – e gostaria muito de ser prefeita em 2025 😀

Que legado você, particularmente, gostaria de deixar para as futuras gerações com a sua trajetória e história política?

A certeza de que as coisas podem ser como acreditamos que devem ser, desde que a gente realmente se esforce e persista nessa direção. (#Suprapartidário)

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