Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais hoje (05/11/2019)

MANCHETES

O Globo

Pacote terá gatilho para conter incentivos fiscais
Força-tarefa para combater o óleo
Bolsonaro inicia processo de privatização da Eletrobras
ANP vê risco de encalhe de 2 áreas do megaleilão
A cultura vai ao Supremo
Presidente terá o desafio de criar sigla a tempo de concorrer em 2020
Após divergência com ministro, general Santa Rosa se demite
Mais de 80% dos chilenos apoiam protestos e uma nova Constituição

O Estado de S. Paulo

Investimento privado eleva projeção oficial do PIB
Reajustes nas contas de água bancam alta de salários
Poluição atinge níveis dramáticos na Índia
Governo não sabe quanto óleo ainda atingirá o litoral do País
Americanos mantêm veto à carne brasileira
Drones viram moda no campo
Osso de dino é achado no interior
Deputados articulam convocação de Heleno
Novo coágulo adia alta de Bruno Covas
EUA oficializam saída do acordo de Paris

Folha de S. Paulo

Lava Jato quis aval de Rosa sem detalhar investigação
Proposta do governo pode derrubar gastos sociais
Em mais um revés, EUA mantêm veto à carne brasileira
Maia critica general Heleno e o chama de olavista por AI-5
Direita radical não tem ideia do que é futuro, diz Harari
Para especialistas, Bolsonaro não obstrui a Justiça
Itamaraty exclui Folha do clipping do ministério
Brasil não consegue frear sífilis, que atinge ápice desde 2010
No primeiro passo para deixar acordo de Paris, EUA notificam a ONU

Valor Econômico

PEC inclui gasto com inativo na conta de saúde e educação
Para governo, investimento privado avança
Em Mariana, justiça vai ser ‘a possível’
Abalos na nova economia
Pré-sal atrai estrangeiras, mas Petrobras será destaque
Youssef volta a operar e investe com robô
EUA não vão abrir mercado à carne brasileira

EDITORIAIS

O Globo

O lugar de cada um

O Grupo Globo, seus jornalistas e o presidente Bolsonaro

Não é novidade. O presidente Jair Bolsonaro não tem apreço pela imprensa independente e profissional. Não tinha durante a campanha e continuou sem ter desde o primeiro dia no cargo. Ele diz que defende uma imprensa livre, mas suas palavras e atos comprovam que ele quer apenas uma imprensa que o bajule e que não busque noticiar os fatos como eles são, mas como ele gostaria que fossem. A essa altura, ele já sabe que jamais terá isso daqueles que praticam com zelo o jornalismo profissional. Certamente não terá isso dos veículos do Grupo Globo. Seus antecessores não tiveram, seus sucessores não terão.

E o motivo é simples. O jornalismo profissional está calcado em três pilares: isenção, correção e agilidade. Isenção significa ser independente de governos, partidos políticos, igrejas, grupos econômicos e lobbies. Ser correto significa apurar os fatos de tal modo que eles condigam no maior grau possível com a realidade dos fatos. Ser ágil significa informar com rapidez porque a informação jornalística, por definição, sendo uma primeira aproximação com a verdade, só tem valor se for tornada pública em tempo razoável. Sem esses pilares, não há jornalismo, não há veículos com credibilidade, não há público que se interesse por eles.

Não é sem razão que só exista jornalismo profissional e independente em democracias. Em sociedades sob o império das leis, mas sem dono, ninguém controla o fluxo dos fatos, o que publicar e o que não publicar, o que é conveniente e o que não é conveniente, o que agrada e o que desagrada. O fluxo de informação é livre, absolutamente livre. Em ambientes assim, sobrevivem aqueles que informam com qualidade, acertam bem mais do que erram (e quando erram reconhecem seus erros) e provam ao público que aquilo que noticiam são fatos. O Grupo Globo existe desde 1925 na mídia impressa, desde 1944 no rádio, desde 1965 na televisão (e nenhuma concessão recebida de militares, presidente), desde 1991 na TV por assinatura e desde 1995, na internet. E em cada uma dessas mídias, é líder de audiência e conta com o respeito e a credibilidade do público. Nenhum veículo jornalístico tem um desempenho desses se não for por mérito. O público, que é o mesmo que vota, sabe julgar. E o Grupo Globo fará de tudo para que continue a merecer a confiança e o respaldo do público. Sempre.

Ao longo desses 94 anos, o Grupo Globo obteve o respeito do público porque sempre se cercou dos melhores talentos, dos mais competentes jornalistas. Profissionais comprometidos com a verdade, íntegros, honestos, que se dedicam, com grande esforço pessoal, hora após hora, dia após dia, semana após semana, ano após ano, a dar o melhor de si em busca da informação de qualidade. A notícia não tem hora, costuma-se dizer nas redações. Muitas vezes, o dever profissional se impõe ao lazer, aos filhos, aos amigos, à família. Tudo na crença de que uma sociedade bem informada vive melhor, decide melhor, constrói um futuro melhor. Não há sociedade que caminhe para o bem-estar sem informação de qualidade, e quem a provê com método são os jornalistas. No Grupo Globo são os jornalistas de todas as redações, de todos os veículos que o compõem.

Chamá-los de patifes, canalhas e porcos não diz nada deles, mas muito dos valores de quem profere insultos tão indignos. É preciso repudiar tal atitude do presidente da forma mais veemente possível e denunciá-la como a de um homem que, hoje não se tem mais ilusões, não comunga dos valores democráticos mais básicos. Não se esperem, contudo, reações no mesmo nível. Espere-se mais jornalismo. Espere-se a busca pela verdade, de forma destemida, que retrate os fatos como eles são, positivos ou negativos, inclusive sobre o governo. E que denuncie qualquer tentativa de cercear as liberdades de nossa democracia.

São 94 anos, repita-se. Atos e palavras são o que definem o lugar de homens e instituições na História. O Grupo Globo tem orgulho do seu lugar, obra de gerações de jornalistas que passaram por ele. O tempo dirá o lugar que o presidente reservará para si.

O Globo

É bom o plano do primeiro emprego

Estagnação econômica teve efeitos devastadores para os mais jovens

É louvável a proposta do governo Jair Bolsonaro para criação de um sistema de incentivos ao emprego de jovens, na faixa de 18 a 29 anos. Esse foi o grupo populacional mais afetado na recessão que abalou o país a partir de 2014.

O desemprego subiu a 25% com efeitos devastadores para a faixa etária de até 24 anos.

Como O GLOBO mostrou, com base em dados recentes do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), a melhoria observada no mercado de trabalho formal, ou seja com carteira assinada, tem sido alavancada pela contratação de jovens.

Foram criadas 548,2 mil vagas nos últimos 12 meses encerrados em setembro. Entre os jovens de até 24 anos, o saldo foi maior: abertura de 1,1 milhão de vagas formais. Essa é uma excelente notícia para uma fatia da população que estava acossada pelos índices mais altos de desemprego, com mais do dobro da média nacional de desocupação.

O governo pretende estimular a contratação usando incentivos, como como a redução do pagamento mensal do FGTS, mas restringindo o programa aos níveis salariais mais baixos, até um salário mínimo e meio. Se for confirmado, se terá algo fundamental e imprescindível ao país: o foco nos mais pobres, em geral com menor qualificação educacional e mais vulneráveis aos efeitos deletérios da revolução tecnológica em curso.

Há limitações fiscais, mostra a realidade. Porém, com empenho e imaginação se torna possível a superação numa etapa crítica do mercado de trabalho.

Se o mercado ainda demonstra não ter fôlego suficiente para resolver o problema, é legítima a intervenção do governo especificamente para alavancagem de vagas formais para trabalhadores jovens, de baixa renda.

O governo acerta ao focar na redução do desemprego entre os jovens. O país lhes deve a chance de um primeiro emprego na economia formal.

O Estado de S. Paulo

A economia reage

Sinais positivos começam a aparecer na economia, mas o ambiente continua marcado pelo mau desempenho da maior parte do setor industrial e pela desocupação ainda muito alta

Sinais positivos começam a aparecer na economia, com a reanimação da indústria imobiliária, juros menores e a expectativa de mais consumo e mais contratações no comércio para as vendas de fim de ano, mas o ambiente continua marcado pelo mau desempenho da maior parte do setor industrial e pela desocupação ainda muito alta. O maior vigor da construção é especialmente importante por seu potencial de emprego e por sua irradiação de estímulos a vários outros segmentos, como a siderurgia, as indústrias de cimento e de plásticos e as fábricas de materiais hidráulicos e elétricos para obras civis. Desde julho, seis construtoras e incorporadoras captaram R$ 3,8 bilhões no mercado acionário e estão previstos lançamentos de ações de outras empresas, segundo informou reportagem do Estado na edição de domingo.

A construção civil, um dos últimos segmentos empresariais a se recuperar da recessão, voltou a mostrar vitalidade neste ano. Nos 12 meses até setembro foram vendidas na cidade de São Paulo 42.351 residências, número 46,6% maior que o do período imediatamente anterior, segundo o Secovi, o sindicato da habitação. As 4.055 unidades comercializadas em setembro superaram por 108,7% o total vendido em igual mês do ano passado.

A retomada da construção, no entanto, está concentrada em São Paulo. Além disso, uma recuperação mais firme do setor dependerá de investimentos em infraestrutura, como observou a economista Ana Maria Castelo, da Fundação Getúlio Vargas, citada na reportagem de domingo. De toda forma, foi dado um primeiro impulso à construção.

Vendas de fim de ano mais animadas que as de 2018 estão nas apostas da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Segundo as últimas projeções, as vendas de Natal devem ser 4,8% maiores que as de 2018. Inflação baixa, prazos maiores de financiamento e medidas de estímulo ao consumo devem favorecer as vendas e incentivar o maior número de contratações temporárias desde 2013, de acordo com os economistas da confederação.

Eles demonstram otimismo quanto aos efeitos da liberação, iniciada em setembro, de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e do PIS-Pasep.

Um dos efeitos, afirmam, deverá ser a contratação temporária de 91 mil trabalhadores, contingente 4% maior que o do ano anterior. Até o início da recessão, lembram os analistas da CNC, mais de 20% das vagas eram ocupadas até outubro e as contratações terminavam no mês seguinte. Nos últimos três anos, 15% das vagas, no máximo, têm sido preenchidas naquele período.

Também economistas do setor financeiro e das principais consultorias têm elevado suas projeções para o crescimento econômico deste ano. O crescimento estimado subiu de 0,87% há quatro semanas para 0,91% e depois para 0,92%, número registrado no boletim Focus divulgado ontem pelo Banco Central (BC).

Mas a melhora de expectativa quanto ao crescimento econômico ficou por aí. Para 2020 foi mantida a projeção de 2%, em linha com as perspectivas afirmadas pelo próprio governo. Para 2021 e 2022 foi mantida a estimativa de expansão anual de 2,50%, considerada compatível com o potencial de crescimento do Brasil.

Não se incluem nas previsões, portanto, expectativas quanto à elevação do potencial produtivo do País. Os analistas do mercado continuam – como seus parceiros das instituições multilaterais – à espera de novos avanços no programa de ajustes e reformas e de reativação dos investimentos em infraestrutura.

A contribuição da maior parte da indústria para a dinamização da economia deve continuar muito pobre, segundo as previsões. A produção industrial cresceu 0,3% de agosto para setembro, mas o resultado acumulado no ano foi 1,4% inferior ao dos nove meses correspondentes de 2018. Segundo o mercado, o produto industrial deve ser neste ano 0,73% menor que no ano passado. Para 2020 a projeção recuou de 2,10% para 2,06%. Falta alguma coisa para o modesto otimismo observado em alguns setores virar uma epidemia.

O Estado de S. Paulo

Redes de mentiras

Em pelo menos 26 regimes autoritários, as tropas virtuais se tornaram uma ferramenta permanente para suprimir direitos e desacreditar dissidentes e jornalistas

A radicalização da política, a desconfiança da democracia e a degradação do debate público são fenômenos muito anteriores às mídias sociais ou mesmo à internet. As redes digitais, por sinal, podem ser um espaço poderoso de revitalização da democracia. Mas com demasiada frequência elas amplificam a desinformação e o ódio. Mais grave é quando essa amplificação não é meramente difusa e espontânea, mas deliberada, e, pior, não é promovida apenas por parte de facções da sociedade, mas por políticos, partidos e mesmo governos. Para mensurar este fenômeno, o Instituto de Internet da Universidade de Oxford iniciou há três anos um inventário anual sobre Desinformação Global.

Os dados deste ano mostram uma inequívoca escalada das “tropas virtuais” (cyber troops), definidas como “agentes do governo ou de partidos políticos incumbidos de manipular a opinião pública na rede”. As evidências apontam esse tipo de manipulação em 70 países. Em 2018 foram 48 e em 2017, 28 – ou seja, em dois anos a quantidade de países afetados cresceu 150%. Em pelo menos 26 regimes autoritários, as tropas virtuais se tornaram uma ferramenta permanente para suprimir direitos e desacreditar dissidentes e jornalistas.

Além disso, alguns governos têm se empenhado em utilizar estas tecnologias como ferramenta de influência e poder geopolíticos. É o caso da Índia, Irã, Paquistão, Rússia, Arábia Saudita, Venezuela e especialmente a China. Até recentemente o Partido Comunista chinês raramente utilizava as mídias sociais para manipular a opinião pública em outros países, mas, desde os protestos pró-democracia em Hong Kong, ele tem “flexionado seus músculos de desinformação”, na expressão dos pesquisadores.

O Facebook permanece a plataforma dominante para a atuação das tropas virtuais, como se viu em 56 países, mas o WhatsApp cresce rapidamente em importância. Os pesquisadores indicam quatro tipos prevalentes de usuários fraudulentos: humanos, utilizados em 60 países para publicar comentários e enviar mensagens privadas; bots (algoritmos programados para mimetizar humanos), utilizados em 50 países para amplificar narrativas e sufocar vozes dissidentes; ciborgues (autômatos coordenados por humanos); e contas roubadas.

As tropas virtuais utilizam vários formatos de mensagens. As mais comuns são as campanhas de difamação contra a oposição, verificadas em 89% dos países. Em seguida, vêm as campanhas de manipulação pró-governo ou partido (71% de incidência) e as mensagens projetadas para provocar divisão e polarização (34%). Além disso, as tropas podem extraviar debates ou críticas sobre assuntos importantes e eventualmente suprimir participações em eventos, com ataques pessoais e intimidação em massa. No Brasil, verificou-se a incidência de todas essas modalidades.

Há também estratégias variadas de comunicação com os usuários das redes. A criação de desinformação (memes, vídeos, etc.) ou manipulação de mídia (websites de fake news) para enganar é utilizada em 75% dos países. Há ainda a amplificação de conteúdos e mensagens por meio de mananciais de hashtags (73%) e as “trolagens”, estigmatizações ou intimidações, estratégia verificada em 68% dos países, mas que vem crescendo aceleradamente.

Seja como causa ou consequência desses fenômenos, o fato é que a indústria das campanhas de manipulação digital se expande a todo vapor, o que deveria atrair, com a mesma intensidade, a investigação por parte do meio acadêmico e jornalístico, além das agências de controle governamentais. Aliás, os sistemas de proteção precisam ser aperfeiçoados, já que todas estas técnicas são potencializadas com o desenvolvimento iminente de novas tecnologias, como a Inteligência Artificial, a Internet das Coisas ou a Realidade Virtual.

Como disse um dos fundadores da democracia moderna, James Madison: “Um governo do povo, sem informação para o povo, é só o prólogo para uma farsa ou uma tragédia; ou, talvez, ambas”.

O Estado de S. Paulo

O custo da ideologia

Em nome do “anti-imperialismo”, Mercosul compra e vende praticamente apenas dentro de suas fronteiras

As dificuldades do Mercosul são inúmeras. A principal talvez seja sua tendência a se fechar para o mundo, comportamento que se explica, em parte, por um cacoete ideológico típico da América Latina chamado genericamente de “anti-imperialismo”. Em nome da proteção dos interesses regionais contra uma suposta invasão de potências econômicas globais, o Mercosul contentou-se a comprar e vender praticamente apenas dentro de suas fronteiras, e o resultado disso é a participação ainda hoje irrisória dos países que o compõem no comércio global.

Esse isolacionismo se acentuou no início dos anos 2000, a partir da ascensão ao poder de lideranças populistas de esquerda – sobretudo Lula da Silva no Brasil e Néstor Kirchner na Argentina. Pior: enquanto se recusava a negociar uma área de livre comércio com o Nafta (Estados Unidos, Canadá e México) e fazia jogo duro para se acercar da União Europeia, o Mercosul saiu a celebrar acordos insignificantes – foram fechados negócios com Israel, Egito e Palestina.

A ideologia sempre foi um mau negócio para o Mercosul, e a volta do kirchnerismo ao poder na Argentina é uma ameaça de atraso ainda maior. Não à toa, o presidente eleito Alberto Fernández prometeu, durante a campanha, “revisar” o anunciado acordo do Mercosul com a União Europeia, para evitar que, “mais uma vez, nós vendamos a eles produtos primários e eles nos vendam produtos industriais” – típico discurso terceiro-mundista.

Do lado brasileiro, o comportamento do atual governo em relação ao Mercosul tem sido igualmente pautado pela ideologia, malgrado as reiteradas promessas do presidente Jair Bolsonaro de tratar dessa questão de maneira desapaixonada. Se, por um lado, Bolsonaro está certo em defender a abertura do bloco comercial, por outro, não pode fazê-lo ameaçando a Argentina de exclusão.

O ânimo punitivo de Bolsonaro em relação à Argentina é fruto da vitória de Fernández, que tem como vice-presidente Cristina Kirchner, a quem os bolsonaristas consideram a encarnação do demônio. O chanceler Ernesto Araújo, por exemplo, escreveu no Twitter que “as forças do mal estão celebrando” a vitória do kirchnerismo, enquanto “as forças da democracia estão lamentando pela Argentina, pelo Mercosul e por toda a América do Sul”. O chefe da diplomacia brasileira considera que “vem por aí”, na Argentina, “fechamento comercial, modelo econômico retrógrado e apoio às ditaduras”.

O comportamento do presidente argentino eleito não é muito melhor. Em provocação nada diplomática, durante a campanha Fernández foi a Curitiba para abraçar o presidiário Lula da Silva, qualificando como “preso político” um condenado por corrupção em três instâncias judiciais, em processo que respeitou rigorosamente o direito de defesa. Já vitorioso, Fernández tornou a demonstrar seu profundo apreço “por meu amigo Lula” e prometeu que, com Cristina, “recuperaremos aos poucos nossos laços de fraternidade e respeito” – uma referência aos tempos em que lulopetistas e kirchneristas articulavam a transformação do Mercosul em bloco bolivariano.

Nada disso augura um bom futuro para o Mercosul, que, para bem funcionar, depende de estabilidade política e econômica entre seus integrantes. Como lembrou o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil, José Augusto de Castro, o comércio entre Brasil e Argentina já sofreu um grande revés neste ano graças à crise argentina, e o cenário pode piorar ainda mais para os dois países em razão de turbulências internacionais. “Não adianta os presidentes trocarem farpas. Ideologia é uma atividade abstrata que não aumenta exportações. O que exportamos são bens e serviços”, disse Castro.

Será necessária uma grande dose de pragmatismo para colocar os interesses comerciais dos dois países acima da ideologia. Quem sabe Bolsonaro possa aprender algo com seu ídolo, o presidente norte-americano, Donald Trump – que, ao contrário do presidente brasileiro, telefonou para Fernández para felicitá-lo pela eleição e para lhe dizer que gostaria de vê-lo “imediatamente”.

Folha de S. Paulo

Na direção correta

Agenda de reformas visa a modernização do Estado e o controle do gasto público

O ministro da Economia, Paulo Guedes, delineou em entrevista a esta Folha uma ambiciosa agenda de reformas que deve ocupar a atenção do governo e do Congresso nos próximos meses.

Muitas das medidas apontam na direção correta ao lidar com a urgente necessidade de modernizar o Estado brasileiro e focar sua ação naqueles que mais precisam.

Elas incluem a necessária reforma administrativa, com vistas a reformular as carreiras do serviço público, reduzir a enorme discrepância salarial com o setor privado e reforçar mecanismos de avaliação de desempenho, hoje inexistentes.

Outros itens importantes da pauta são a PEC que aperfeiçoa o funcionamento do teto constitucional de gastos (limitados à inflação) e a busca por maior flexibilidade na gestão dos orçamentos. Sua rigidez excessiva também inviabiliza que os gestores públicos possam rever as prioridades de gasto.

Guedes mostra realismo quando reconhece ser politicamente impossível abrir caminho para uma redução dos montantes aportados em educação e saúde. A solução de agregar as duas rubricas pode ser um bom caminho intermediário.

O ministro exagerou ao afirmar que só a centro-esquerda governou o Brasil nos últimos 30 anos. Mas não se desviou demais do alvo quando se considera que o crescimento do tamanho do Estado foi uma constante ao longo de todo esse período e precisa ser revisto.

Sinais dos benefícios potenciais de uma política econômica mais austera para os gastos públicos já começam a se evidenciar. É difícil contestar, por exemplo, que a queda dos juros básicos nos últimos três anos —de 14,25% ao ano em outubro de 2016 para 5% hoje— surpreendeu até os mais otimistas.

Um fator importante, certamente, a justificar essa tendência é a profunda mudança na política econômica desde que foi instituído o teto constitucional para os gastos públicos, em novembro de 2016.

Desde então vem se estabelecendo, ainda que gradualmente, a inversão da combinação anterior, com despesas acima da inflação, de um lado, e juros exorbitantes para controlar a inflação, de outro.

É evidente que há outros fatores, mas o que se passa é um ensaio de retração do tamanho do Estado e maior prevalência do setor privado como motor do crescimento. Essa mudança, naturalmente, leva tempo e não ocorre sem riscos.

O principal é assegurar que a revisão do tamanho do gasto público não penalize os mais pobres. Também falta que a redução dos juros chegue ao crédito de pessoas físicas e a empresas de menor porte.

Com esses cuidados em mente, é preciso dar algum tempo para que a nova política econômica possa mostrar seus resultados.

Folha de S. Paulo

Cidades submersas

Inundações anuais e bairros devastados podem ser realidade com mudança climática

O brasileiro está, infelizmente, acostumado a episódios de enchente. A cada verão, repetem-se as cenas após as chuvas: moradores que perdem móveis e eletrodomésticos, pessoas e animais arrastados pelas águas, famílias desabrigadas em escolas ou ginásios.

Se essa tragédia rotineira é hoje normalmente causada por rios ou córregos que transbordam, a ameaça nas próximas décadas começará a vir também do mar.

Em locais como a região metropolitana do Rio de Janeiro, a Baixada Santista e as cidades de Caraguatatuba (SP) e Joinville (SC), onde vivem 1,4 milhão de brasileiros, há risco de inundações anuais até 2050. Para 1 milhão de pessoas no país, a situação é ainda pior: seus bairros podem ficar permanentemente submersos nesse período.

O perigo de que se torne verdade o cenário imaginado por Chico Buarque na música “Futuros Amantes” (“E quem sabe, então/o Rio será/alguma cidade submersa”) vem da mudança climática.

Geleiras vão derretendo e aumenta o nível do mar; a própria água, mais quente, se expande; e eventos climáticos extremos, como tempestades tropicais, se tornam mais frequentes e mais destruidores com a atmosfera mais aquecida.

Desde 2006, o nível dos oceanos vem aumentando 3,6 mm por ano. Projeções indicam que, se o mundo conseguir manter o aquecimento global abaixo de 2°C, os oceanos subirão meio metro até 2100.

Esse é o cenário otimista, que não parece provável. Mantidas as taxas atuais de poluição por carbono, que causa o efeito estufa, será um metro a mais no nível do mar até o final deste século.

As previsões sobre as áreas inundadas são de pesquisa feita pela Climate Central, ONG que estuda a mudança climática, e publicada na revista científica Nature Communications. Países como China, Vietnã, Tailândia e Índia também serão fortemente afetados pela subida dos mares, e 150 milhões podem perder suas casas.

No Brasil e fora dele, os pobres serão desproporcionalmente atingidos pelas inundações, seja por se concentrarem em muitas das áreas apontadas como as mais afetadas, seja porque perder casa e posses é emergência financeira muito maior para quem já tem tão pouco.

Negar a existência da mudança do clima em nada vai ajudar essas populações. Já passa da hora de o mundo perceber que o aquecimento global não é só emergência climática, mas também social.

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