UOL destaca articulação política do Cidadania com Luciano Huck

Partido que “namora” Luciano Huck junta ex-comunistas e liberais

Wellington Ramalhoso – UOL

O apresentador de TV Luciano Huck tem circulado no meio político e é citado como um possível candidato a presidente em 2022. Entre os partidos que dialogam com ele, o mais interessado em um relacionamento sério parece ser o Cidadania, uma espécie de coalizão formada por ex-comunistas, ou seja, de origem esquerdista, e liberais, situados à direita no espectro político.

Líderes do partido, como o presidente Roberto Freire, e os deputados federais Marcelo Calero (RJ) e Daniel Coelho (PE), mostram sintonia com o discurso de Huck, que tem pregado uma aliança do liberalismo econômico com o combate a desigualdades

O Cidadania é proveniente do PPS (Partido Popular Socialista), fundado em 1992 e originário do antigo PCB (Partido Comunista Brasileiro). A criação do novo partido foi formalizada no primeiro semestre deste ano.

O ex-senador e ex-ministro da Cultura Roberto Freire, 77, também comandava o PPS. Quando se aventou que Huck poderia ser candidato a presidente em 2018, a sigla já despontava como favorita a recebê-lo.

Em contato mais próximo com o apresentador de TV desde 2017, Freire começou a abrir o partido anterior para grupos de renovação política dos quais Huck é vinculado ou próximo. Passaram, então, a entrar no PPS integrantes de movimentos como o Agora! e o liberal Livres, grupo que abandou o PSL quando o então deputado federal Jair Bolsonaro ingressou na sigla.

Na criação do Cidadania, os dois grupos acima e também o Acredito conquistaram um assento cada no Diretório Nacional da legenda. Integrante do Livres, o deputado Daniel Coelho foi escolhido para ser o líder do partido na Câmara.

“O muro caiu”

“Como aqueles que tiveram origem comunista estão abrindo o diálogo com os liberais? O muro caiu [referência ao Muro de Berlim, símbolo da divisão entre comunistas e capitalistas que foi destruído em 1989]. Não tem mais o entendimento que se tinha anteriormente. O mundo é outro”, diz Roberto Freire.

“O Cidadania está trazendo o pensamento liberal, fundamentalmente na questão política, na defesa das liberdades da democracia e na discussão do que é esta nova economia. Os sociais-democratas têm a luta pela igualdade de oportunidades e mais justiça social, o que é fundamental para o Brasil, que continua sendo uma das sociedades mais injustas e desiguais do mundo. Este é o diálogo que a gente está construindo”, comenta o veterano político.

Huck, 48, tem discurso semelhante. Ontem, em evento em São Paulo, ele manifestou concordância com as “teses liberais” na economia, mas afirmou que elas precisam ser acompanhadas da “afetividade”, sob o risco de a desigualdade social gerar reações populares como as que sacodem o Chile.

“O Chile, quando você conversa com os liberais, até 15 dias atrás era o ‘state of art’ (estado da arte). Só que esqueceram das pessoas. Então virou exemplo de eficiência sem afetividade. O que está acontecendo no Chile tem que ser uma lição”, disse o apresentador.

“Fora da polarização”

Também ex-ministro da Cultura, o deputado Marcelo Calero, 37, integra o Agora!, do qual Huck faz parte, e o Livres. Ele aponta o apresentador de TV como uma referência, um líder e um incentivador. E diz que o Cidadania quer “mostrar que outro caminho é possível”.

“O partido está compromissado em oferecer ao Brasil uma alternativa que não esteja nem à esquerda nem à direita, que não esteja nessa polarização que tomou conta da política brasileira e só está trazendo prejuízos. A gente não precisa estar nessa lógica nem do Lula Livre nem do Bolsomito”, comenta Calero.

O pêndulo se move

Roberto Freire define o partido da mesma forma que classificava o PPS: como social-democrata, posicionado na centro-esquerda, mas a presença liberal tende a mudar o pêndulo. “O Cidadania está se posicionando como um partido de centro, plural e com uma coalizão dos sociais-democratas e liberais”, afirma Paulo Gontijo, diretor-executivo do Livres.

“Quando a gente foi convidado a participar do Cidadania, quando as portas foram abertas pelo Roberto Freire, o convite foi feito para a gente construir um novo partido. Ele queria que o então PPS e quem tivesse entrando ajudassem a criar uma coisa diferente”, prossegue Gontijo.

Ligação fortalecida com grupos de renovação

Enquanto partidos como PDT e PSB se desentendem com parlamentares originários de grupos de renovação política como os deputados Tabata Amaral (SP) e Felipe Rigoni (ES), o Cidadania é elogiado por Calero e Coelho. De acordo com eles, a legenda cumpre o que promete na abertura a estes movimentos.

“No Cidadania, foi assinado um acordo, uma carta de intenções [com os movimentos]. E esse acordo tem sido respeitado integralmente, ao contrário do que aconteceu em outros partidos”, afirma Calero.

Neste sentido, o Novo é outra agremiação criticada por Coelho. “Nenhum outro partido abriu espaço na executiva, no estatuto e no programa para os movimentos. A construção do Cidadania é mais democrática, aberta e horizontal. Os outros partidos quiseram usar os votos dos movimentos, mas depois tentam pautar, com sua antiga visão de mundo, o que essas pessoas, que estão chegando e sendo eleitas, vão fazer. O Novo, que tem uma pauta nitidamente liberal, é um partido que tem um dono, e os outros obedecem. Não tem um ambiente de discussões e debates interno como estamos construindo”, argumenta Coelho.

O Cidadania tem uma bacada pequena, formada por nove deputados, e está atento aos impasses entre Tabata Amaral e o PDT e entre Felipe Rigoni e o PSB. Ambos são integrantes do movimento Acredito.

Filiado ao Cidadania, o senador Alessandro Vieira (SE) pertence ao mesmo grupo e mantém diálogo com os colegas. Freire diz que é necessário aguardar a definição da Justiça sobre os pedidos que Tabata e Rigoni fizeram para deixar as legendas. Se conseguirem o rompimento, ele afirma que o Cidadania tem “todo o interesse” em recebê-los.

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