Ame ou odeie, Jair Bolsonaro está aí, é uma realidade. Fruto de uma campanha singular, marcada pelos efeitos devastadores da Lava Jato, vazia de conteúdo e de sensatez, a eleição deste que é o 38º presidente da República foi – discorde se quiser – uma fraquejada da democracia brasileira.
A ojeriza de parcela significativa da população ao Partido dos Trabalhadores resultou na assunção ao poder do circo de horrores do PSL, o “PT da direita”. E por que essa definição maldosa? Ora, meu caro eleitor, porque tudo que você rejeitava no PT se repete agora na mão trocada. Apenas se inverteram os papéis de quem é governo e quem é oposição, à direita ou à esquerda.
“Lula tá preso, babaca!”. É um dos mantras preferidos do bolsonarismo, esse fenômeno a ser estudado no futuro por historiadores, cientistas e psiquiatras. Lula está preso, é verdade. A gente sabe como. Mas muito corrupto, ladrão e assassino permanece livre, leve e solto.
O Queiroz é um que está livrinho da silva, junto com os mandantes do crime da Marielle, os laranjas do partido rachado do presidente, os derramadores de óleo, os incendiários e desmatadores, os agrotoxicomaníacos e os beneficiários dos depósitos bancários do Queiroz, que (nunca se esqueça) continua livrinho da silva (ao contrário do Luiz Inácio).
Essa direita retrógrada, caduca, embolorada, antiliberal, bélica, preconceituosa e intolerante que saiu do armário e chegou ao poder com o meme que virou presidente, todos saudosos da ditadura militar e idolatrando torturadores, é um risco diário ao estado democrático de direito.
Afinal, eles não se limitam à caricatura dos personagens que postam selfies fazendo arminha com as mãos, mas usam sistematicamente o poder de fogo dos seus dedos nas redes sociais para assassinar reputações, ameaçar opositores e exterminar inimigos. Não se engane. Os ataques às instituições republicanas, à imprensa, aos partidos, ao Congresso, ao STF, à ONU, essa caça extemporânea a comunistas (reais e imaginários), o autoritarismo, o populismo, a beligerância, tudo isso faz parte de uma estratégia deliberada.
O plano inconfessável do boçalnarismo – a variante do fenômeno que faz de um inepto, despreparado e desqualificado um “mito” – é preparar terreno para um golpe contra a democracia. Nada é por acaso. A tentativa de desmoralização e controle institucional, enquanto cerca o governo de militares e de um exército de lunáticos e fanáticos ideológicos, é o primeiro passo para instituir um regime de cerceamento das liberdades e dos direitos individuais e coletivos.
E por que, na minha humilde, sincera e contestável opinião, Bolsonaro é o pior presidente da história do Brasil? Como posso fazer essa afirmação se já tivemos outros maus presidentes desde a proclamação da República, num contexto de muita instabilidade política, incluindo golpistas, ditadores, incompetentes e incapazes? Então, vamos lá! Dando nomes aos bois, desde 1889.
Do pioneiro Deodoro da Fonseca, escolhido para liderar o governo republicano provisório, passando por Floriano Peixoto, Prudente de Moraes (o primeiro presidente eleito pelo povo e também o primeiro que não era militar), Campos Sales, Rodrigues Alves, Affonso Penna, Nilo Peçanha, Hermes da Fonseca, Venceslau Braz, Delfim Moreira, Epitácio Pessoa, Artur Bernardes e Washington Luís, até o Estado Novo do controverso Getúlio Vargas.
Depois José Linhares, Eurico Gaspar Dutra, o retorno de Vargas através do voto até o suicídio, Café Filho, Carlos Luz, Nereu Ramos, o adorado Juscelino Kubitschek, o maluco Jânio Quadros, Ranieri Mazzilli após a renúncia e João Goulart até o golpe militar. Daí assume mais uma vez Ranieri Mazzilli e a sequência de cinco presidentes militares durante os 21 anos de ditadura.
Castelo Branco, Costa e Silva, a junta provisória, Médici, Geisel, Figueiredo. Os generais cumpriam aquilo que deles se esperava – com excessos deploráveis e o endosso das “pessoas de bem”. Mas o povo cansou e pediu a volta da democracia e das eleições diretas. Aí viriam Tancredo (que foi sem nunca ter sido), Sarney, Collor, Itamar, FHC, Lula, Dilma, Temer… e finalmente Bolsonaro.
Todos, registre-se, com imenso apoio popular no início de cada mandato e um final melancólico. Lembramos sempre que a política é cíclica. Estamos ainda no começo da história a ser construída por Bolsonaro – até a queda inevitável. O drama é o que está por vir. Conhecemos o passado. Alguns aprendem com ele, seus erros e acertos. Outros desprezam, ignoram, apagam da memória.
Bolsonaro é o erro. Ele reúne as piores características dos piores presidentes e não apresenta nenhuma das boas qualidades dos 37 antecessores. Não chega nem aos pés do preparo – ainda que condenável – dos ditadores. É um amalucado como Jânio, brindado por um golpe de sorte como Sarney, ególatra e charlatão como Collor e limitado intelectualmente como Dilma (que ao menos era uma técnica esforçada).
Veja, conhecendo a história e vivenciando o primeiro ano deste governo bolsonarista, não tem como não fazer oposição ao presidente – o que não nos torna petistas, que fique claro. É possível se opor ao mesmo tempo a Lula e Bolsonaro, por mais que o raciocínio binário dos fanáticos não compreenda. Deixemos o governismo aos fisiológicos e oportunistas de sempre.
Enfim, Bolsonaro, a aposta da direita, não passa de um zero à esquerda. Resta aguardar quanto vai durar e como terminará esse atual período. Tem torcida otimista que aposta na reeleição em 2022 e na sucessão em 2026. Outros, antidemocratas, pregam a perpetuação (ou a abreviação) pelo golpe. Tem saída à Getúlio, Jânio, Jango, Collor, Dilma. Tem derrota para a oposição no voto, como Sarney, FHC, Temer. Ou tem cadeia igual ao Lula. Eu fico entre a renúncia e o impeachment.
Mauricio Huertas é jornalista, líder RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), editor do #Suprapartidário, idealizador do #CâmaraMan e apresentador do #ProgramaDiferente.