André Siqueira – Revista Veja
Ao rejeitar regras mais duras para o abono salarial, o plenário do Senado impôs uma derrota à equipe econômica liderada pelo ministro Paulo Guedes e enviou um “recado político” às lideranças do governo Bolsonaro, que terão trabalho nos bastidores para evitar um revés na votação do segundo turno da reforma da Previdência.
Na terça-feira 1º, depois da aprovação do texto-base da proposta que altera as regras de aposentadoria, os senadores passaram a analisar os destaques, entre eles o que discutia mudanças nos critérios para concessão do abono salarial, uma espécie de 14º salário pago a trabalhadores de baixa renda com carteira assinada.
O Senado manteve o critério atual, segundo o qual tem direito ao benefício quem recebe até dois salários mínimos, cerca de 2 mil reais – o governo propunha uma redução para aproximadamente 1,3 mil reais. Com a decisão, a estimativa de economia foi reduzida em 76,4 bilhões em dez anos.
Ao final da votação, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), criticou a articulação do governo e disse que as lideranças precisam “se organizar”. Diagnóstico semelhante faz o senador Alessandro Vieira, do Cidadania, partido que propôs o destaque que excluiu do texto as mudanças sobre o abono salarial.
Para Vieira, a reforma está “totalmente abandonada” e o governo “não deu a menor atenção” ao assunto.
“Só há o Rogério Marinho [Secretário de Previdência e Trabalho] correndo de um lado para o outro tentando esclarecer dúvidas, trazer informações e assumir compromissos sobre eventuais mudanças no texto. Isso, obviamente, foi criando uma dificuldade para a tramitação da proposta”, disse a Veja o senador.