Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais hoje (12/09/2019)

MANCHETES

O Globo

Bolsonaro demite auxiliar de Guedes e descarta CPMF
Apagão deixa plenário da Câmara dos Deputados à meia-luz
Senado aprova novo marco legal do setor de telecomunicações
Fundo eleitoral pode chegar em 2020 a R$ 3,7 bilhões
Coaf aponta movimentações atípicas de David Miranda
MP investiga se Carlos Bolsonaro usou funcionários fantasmas
Desmatamento cai, mas queimadas crescem 44% no Cerrado
A arte itinerante de Carlos Vergara no MAM
Alvo da milícia, Cidade de Deus vê fuga do tráfico

O Estado de S. Paulo

CPMF derruba secretário e governo vai mudar cúpula da Receita
Registro de dengue aumentam 600% no País
Governo recua e libera 3.182 bolsas da Capes
MP apura se Carlos Bolsonaro empregou servidores fantasmas
David Miranda na mira do Coaf
Delegado da PF é suspeito de fraude no ‘caso Hélio Negão’
Israel lança ataque a Gaza após ser alvo de foguetes
OEA pressiona Maduro com pacto da Guerra Fria

Folha de S. Paulo

Insistência em nova CPMF derruba chefe da Receita
Operação em RO despeja invasores de floresta
Ricardo Salles – Nós falhamos na comunicação de nossas ações
Comissão aprova projeto que muda marco das teles
Coaf vê movimento atípico em contas de David Miranda
STF prepara julgamentos cruciais para a Lava Jato
Casos de dengue aumentam 600% no país neste ano
Tribunal Militar gasta R$ 100 mil com três ministros em férias
Universidades do país ampliam presença em ranking internacional
Aliança religiosa une chanceler e secretário de Estado americano

Valor Econômico

Guedes demite Cintra e governo desiste da CPMF
BNDES conclui investigações sobre caso JBS
Frutas fazem Klabin ter nova unidade no NE
Chineses lutam contra o mexilhão
Machismo ainda afasta mulheres da matemática

EDITORIAIS

O Globo

O candidato Trump demite assessor e se afasta da retórica de guerra

Representante de uma diplomacia agressivamente conservadora, Bolton defendia unilateralismo e intervenções armadas

Na política, alguns movimentos revelam mais do que ocultam. É o caso da demissão de John Bolton. Na terça-feira, Donald Trump o ejetou da assessoria de Segurança Nacional da Casa Branca. E fez questão de explicitar a razão da dispensa: “Fortes diferenças”.

Bolton representava uma fração mais conservadora e radical do Partido Republicano que acredita ser possível moldar a política externa americana hoje com base em fórmulas resgatadas da Guerra Fria, quando os EUA atuavam como espécie de polícia global anticomunista.

Bolton , de 70 anos, se distinguiu em Washington por ser essencialmente um “falcão”, como são definidos os ativistas militantes de uma diplomacia agressivamente conservadora, do unilateralismo e das soluções via intervenções armadas. Permaneceu 16 meses no governo Trump. Seu estilo agressivo o levou a embates internos, e aos poucos viu-se limitado tanto por familiares do presidente quanto pelo secretário de Estado Mike Pompeo, com quem não ultrapassava o protocolo e, finalmente, pelo próprio Trump. Porém, à margem das intrigas palacianas, há uma campanha pela reeleição, e o candidato Trump tropeça em obstáculos incontornáveis apenas com mensagens em redes sociais.

Aparentemente, o radicalismo de Bolton na política externa se tornou uma carga excessiva para o presidente-candidato, cujas ações erráticas têm inibido a rápida e necessária transformação dos setores de tecnologia, agricultura e bens de consumo. Pela primeira vez, os EUA se defrontam com a perspectiva de disputa da liderança global com uma potência emergente e não-ocidental, a China.

O velho receituário de Bolton para o uso da força com a China, o Irã, a Coreia do Norte e a Venezuela frustrou-se pela incompatibilidade intrínseca com um mundo diferente, balizado pela tecnologia digital. “Se dependesse de John, estaríamos em quatro guerras, agora” — ironizava Trump em reuniões, conforme se relata em Washington.

Trump continuará um presidente-candidato conservador, impulsivo e contraditório — a demissão de Bolton já emula reações entre republicanos e desnorteia aliados da retórica belicista em outros governos, como o do Brasil. Porém, ao menos nessa etapa, ele sinaliza disposição de se manter afastado da tática de usar a guerra como método de campanha para a reeleição.

O Globo

É preciso firme defesa da democracia

Instituições e a sociedade devem dedicar especial atenção a desvios autoritários do governo Bolsonaro

Tem um peso um vereador da Câmara do Rio, a “Gaiola de Ouro”, agredir a democracia e defender que um regime autoritário seria a melhor forma de se ultrapassarem os gargalos em que o país se encontra. Mas se ele for Carlos Bolsonaro, filho do presidente da República, o peso é outro, e a gravidade também.

Inaceitável, mas não se devia esperar algo diferente. É questão de berço, pois o pai, Jair, construiu na Câmara dos Deputados longo currículo de autoria de agressões verbais à democracia. Eduardo, irmão de Carlos, e também parlamentar — deputado federal por São Paulo —, já discorreu sobre como fechar o Supremo: com um soldado e um cabo. O presidente da República minimizou o fato, creditando-o à juventude do filho, e o tempo foi em frente.

Agora, vendo-se o conjunto da obra de oratória autoritária da família, não há mais dúvida de que se trata de um pendor ideológico, que precisa ser rebatido por meio de palavras e atos. Reconforta que as instituições democráticas e republicanas brasileiras, reconstituídas há 31 anos por meio da Carta de 1988, tenham sido testadas com sucesso, durante uma geração, e de diversas formas. Impeachments — Collor e Dilma —, bem como por devaneios autoritários de algumas frações do PT, com ramificações pela corrupção.

Um sintoma da dificuldade de projetos deste tipo prosperarem são reações como as do vice-presidente da República, Hamilton Mourão, um general há pouco tempo na reserva, e dos presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre. Mourão, que se encontra no Planalto devido à cirurgia de Bolsonaro, retrucou sem rebuscamentos: “temos de negociar com a rapaziada do outro lado ali da praça (dos Três Poderes, o Congresso), é assim que funciona”. Maia alertou para os efeitos deletérios de declarações como essas sobre a economia, cuja conta “é paga pelo povo mais pobre”; Alcolumbre registrou o seu “desprezo” ao que dissera Carlos Bolsonaro.

Estes quase nove meses de governo Bolsonaro aconselham a necessidade de uma especial atenção de instituições e organismos da sociedade a desvios de poder que precisam ser coibidos e corrigidos.

O uso de um recurso à disposição do governo federal, a medida provisória, para retaliar a imprensa profissional, de que o presidente não gosta, é gritante manipulação ilegal de instrumentos de Estado contra quem faz críticas ao governo. E o faz por dever de ofício, respaldada pela Constituição.

O presidente sancionou em abril lei sobre a publicação de balanços, mas voltou atrás para editar MP a fim de prejudicar jornais. A medida provisória acabou com qualquer obrigatoriedade de empresas de capital aberto divulgarem balanços e relatórios em veículos de grande circulação. A intenção foi explicitada pelo próprio Bolsonaro. Há pouco, também por meio de MP, os atingidos foram jornais menores, do interior, nos quais estados e prefeituras não precisarão mais divulgar convocações de concorrência etc.

Um ato autoritário típico. O perigo é que todo o discurso de intolerância que este grupo joga nas redes sociais começa a se materializar em decisões de governo com o mesmo viés. Os recursos de poder do Estado brasileiro não podem estar a serviço de qualquer projeto que contrarie a Constituição.

O Estado de S. Paulo

Boa surpresa no consumo

O vigor do comércio em julho pode ser sinal de reação do organismo econômico. IBGE cita evolução do mercado de trabalho e melhora das condições de crédito

O vigor do comércio em julho, uma boa surpresa no meio de tantas notícias negativas, pode ser mais um sinal de reação do organismo econômico. As lojas do varejo venderam naquele mês 1% mais que em junho, puxadas principalmente pelos supermercados, e 4,3% mais que um ano antes. Os novos números trazem fortes indícios de intensificação do consumo. Em 12 meses o volume vendido foi 1,6% maior que o do período anterior, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Para explicar esse desempenho, a gerente da pesquisa mensal, Isabella Nunes, mencionou a evolução gradual do mercado de trabalho, com aumento das pessoas ocupadas, e a melhora das condições de crédito. O financiamento é especialmente importante para as vendas de veículos, motos e partes e também de material de construção. Acrescentando-se ao conjunto esses dois segmentos, chega-se ao varejo ampliado, com aumento de 0,7% no mês, 7,6% na comparação com os dados de um ano antes e avanço de 4,1% em 12 meses.

A referência ao mercado de trabalho pode surpreender, inicialmente, porque 12,6 milhões de pessoas, 11,8% da força de trabalho, permaneciam desempregadas no trimestre encerrado em julho, também de acordo com o IBGE. Mas o mesmo balanço das condições de emprego apontou o ingresso de cerca de 1,2 milhão de pessoas na população ocupada, naquele trimestre, e foi este o detalhe mencionado pela gerente da pesquisa mensal do comércio varejista.

Com as vendas de julho, o varejo aproximou-se do volume de negócios de junho de 2015 e continuou 5,3% abaixo do recorde alcançado em outubro de 2014. A recuperação foi suficiente, portanto, apenas para reconduzir o comércio varejista ao nível registrado no meio do primeiro ano da recessão.

Convém levar em conta esses detalhes ao avaliar os sinais de melhora da economia brasileira. Também é preciso lembrar o mau desempenho da indústria neste ano. Em julho, a produção industrial foi 0,3% menor que a de junho e 2,5% inferior à de um ano antes. Em 12 meses houve um recuo de 1,3%. Talvez os números de agosto mostrem algum efeito da reação do varejo, mas faltam dados para qualquer aposta razoavelmente segura em relação a esse ponto.

Mesmo no governo há pouco otimismo quanto às possibilidades de reação industrial, neste ano, como indicam as últimas avaliações publicadas pela Secretaria de Política Econômica do Ministério da Economia. Embora projetando alguma recuperação do Produto Interno Bruto (PIB) a partir de setembro, a secretaria estima para a indústria, no terceiro trimestre, uma produção 0,4% inferior à do segundo.

Na próxima semana o Banco Central (BC) deverá anunciar uma nova decisão sobre a taxa básica de juros. No mercado financeiro, os analistas mais comedidos dão como certo um corte de 0,25 ponto porcentual. Muitos apostam numa redução de 0,5 ponto. Hoje a Selic, a taxa básica, está em 6%.

Se os juros voltarem a cair, poderá haver algum estímulo adicional ao consumo. Os primeiros saques do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) também poderão adicionar algum ânimo aos consumidores. A permissão de saques do Fundo e do PIS-Pasep é o primeiro lance da equipe econômica a favor de uma reanimação dos negócios. A combinação de juros mais baixos e de saques poderá produzir algum efeito. Mas as projeções oficiais, assim como as do mercado, continuam apontando crescimento muito modesto neste ano e no próximo. Segundo essas projeções, o PIB crescerá menos de 1% em 2019 e pouco mais de 2% em 2020.

Restam como dados positivos, até agora, o aumento da população ocupada e a reação do consumo apontada pelo balanço de julho. Os poucos sinais positivos indicam uma reação meramente orgânica, porque a equipe econômica pouco fez de concreto para injetar alguma energia na produção. Agora se fala em medidas para mover o programa Minha Casa Minha Vida, importante fonte de empregos e de difusão de demanda para vários segmentos industriais. Alguma rapidez na execução desse plano será muito bem-vinda.

O Estado de S. Paulo

Todos contra o mosquito

Após dois anos de relativa retração, o mosquito transmissor da dengue voltou a se proliferar pelo País

Há décadas o País convive com o Aedes aegypti, inseto transmissor da dengue. Segundo a Organização Mundial da Saúde, o Brasil é um dos 30 países que mais sofrem com este “desastre silencioso”. Agora, após dois anos de relativa retração, o mosquito voltou a se proliferar pelo País. O caso é especialmente alarmante, primeiro, porque o verão se aproxima, depois, porque desde os anos 2014 e 2015, quando a incidência da dengue atingiu o nível de epidemia em diversos Estados, o Aedes foi identificado como transmissor também da febre chikungunya e do zika vírus, que pode causar microcefalia em bebês.

Segundo o Ministério da Saúde, houve aumento nas incidências das três doenças. Entre janeiro e agosto os casos de zika aumentaram 47% em relação ao mesmo período do ano passado, com surtos especialmente intensos no Tocantins, Rio Grande do Norte e Alagoas. Já os casos de chikungunya subiram 44%, avançando sobretudo no Rio de Janeiro.

A maior propagação foi da dengue: 600%. Foi mais de 1,4 milhão de casos de infecções, ou seja cerca de 690 por 100 mil habitantes. Para ter uma ideia, o indicador de epidemia da Organização Mundial da Saúde é de 300 casos por 100 mil habitantes. Apenas no Amazonas e no Amapá houve redução de registros. Entre os demais Estados, pelo menos 14 estão em situação de epidemia. No Sul e no Sudeste a crise é aguda. Em São Paulo a incidência foi 37 vezes (3.712%) maior. No Paraná, 36. O Ministério da Saúde atribui a alta ao aumento das chuvas neste ano na Região Sudeste e sobretudo a alterações entre os 4 tipos de vírus causadores da dengue. Nos últimos anos a circulação estava concentrada nos tipos 1 e 3, mas neste ano houve um surto do tipo 2, aumentando o número de pessoas vulneráveis à infecção. Somadas, as três doenças levaram a 650 mortes (591 por dengue, 57 por chikungunya e 2 por zika).

Com a chegada do verão, o poder público e a sociedade civil precisam se preparar para uma guerra cujas batalhas, por sua própria natureza, só podem ser vencidas em conjunto. A médio e longo prazos, há a necessidade urgente de investir pesadamente no saneamento, área de infraestrutura mais precária do País, em especial na coleta e tratamento de esgoto. Tramitam no Congresso projetos de lei que podem destravar o virtual monopólio das estatais e atrair investimentos privados. É preciso agilizá-los.

Aos municípios, amparados por seus Estados e pela União, cabe mobilizar os profissionais de saúde e, se necessário, de segurança pública para promover a pulverização intensiva e extensiva, inclusive lançando mão de aviões, se for o caso. A fumaça, porém, só mata o mosquito adulto, não atingindo as larvas, de modo que o essencial será realmente a conscientização da população.

Como se sabe, a incidência concentra-se no verão em razão das chuvas, que favorecem o acúmulo de poças d’água. A água parada – limpa ou suja – é o principal foco de reprodução do inseto, de modo que o melhor meio de evitá-la é simplesmente tampar ou esvaziar cisternas, vasos e quaisquer outros recipientes. Trata-se de uma guerra de tensão permanente. Mas as ações preventivas tendem a ser, paradoxalmente, reativas e de curto prazo. A experiência mostra que sempre que a vigilância é relaxada os focos voltam a se proliferar, como agora. Assim, a colaboração da população é o elemento crucial, mas o governo, bem como a imprensa, devem fazer a sua parte, fomentando campanhas ostensivas de alerta. As redes sociais podem ser de grande valia neste esforço.

É tão alentador pensar que a melhor maneira de eliminar a dengue, a chikungunya e a zika é simplesmente evitar o empoçamento de água em recipientes descobertos quanto é desesperador constatar que, na prática, essa medida tão prosaica é negligenciada pela população. Os brasileiros têm à sua frente um teste de cidadania. A população tem contra si um inimigo comum inequívoco. É hora de cada brasileiro mostrar que é capaz de combater por todos, sem precisar ir longe: o primeiro e principal campo de batalha é a sua própria casa.

O Estado de S. Paulo

Saudável disposição

Tasso Jereissati já mostrou disposição para rever seu relatório a fim de evitar atrasos na PEC da reforma da Previdência

Discute-se no Senado se as supressões feitas pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) no texto do projeto da reforma da Previdência, relatado por ele na Casa, configurariam alterações substanciais do texto aprovado pela Câmara dos Deputados ou se são meras emendas de redação. A discussão é importante porque, prevalecendo o entendimento de que se trata de alterações de mérito, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) deve voltar aos deputados para nova deliberação. Não havendo qualquer mudança de substância, a PEC pode seguir sua tramitação no Senado, com votação em plenário em dois turnos e promulgação.

De toda forma, o senador Tasso Jereissati já mostrou uma saudável disposição para rever o seu relatório a fim de evitar atrasos no andamento da PEC. Louve-se a iniciativa porque a volta do texto para a Câmara dos Deputados, além de atrasar o cronograma de promulgação da reforma da Previdência – prevista para meados de outubro –, abre um perigoso espaço para novas investidas das corporações afetadas pela reforma, o que, ao fim e ao cabo, pode desidratar ainda mais a economia prevista para os dez primeiros anos após a promulgação da PEC, hoje fixada em R$ 877 bilhões. O valor é menor do que os R$ 933,5 bilhões previstos na proposta aprovada na Câmara dos Deputados.

Uma das mudanças propostas pelo senador Jereissati estende aos Estados e municípios a autonomia para fixar alíquotas extraordinárias na contribuição previdenciária dos servidores. Isso seria possível por meio da retirada da expressão “no âmbito da União” no trecho da proposta que trata dessas contribuições extras. Inicialmente, técnicos do Senado avaliaram que a supressão muda o conteúdo da PEC e, portanto, o texto deveria voltar para a Câmara.

Este também foi o entendimento do deputado Marcelo Ramos (PL-AM), presidente da Comissão Especial da Reforma da Previdência na Casa. “(A supressão) muda completamente o conteúdo. É absolutamente legítimo que o Senado faça alterações, mas a Constituição é clara. Nesse caso, o texto deve voltar (à Câmara)”, disse.

Na noite da terça-feira passada, no entanto, o senador Tasso Jereissati informou que nova análise das alterações feitas por ele indicava que as supressões não implicariam a volta da PEC para reanálise dos deputados. “A conclusão a que se está chegando é que a mudança pode ficar no texto porque se trata de uma emenda de redação, mas evidentemente precisa haver uma confirmação disso (pelos técnicos do Senado)”, disse o relator ao jornal Valor.

A outra modificação proposta pelo senador Jereissati em seu relatório, também objeto de estudo dos técnicos do Senado, diz respeito à possibilidade de trabalhadores informais contribuírem para a Previdência com alíquotas favorecidas. Em seu texto, o relator substitui a expressão “a lei poderá” por “a lei instituirá um sistema especial de inclusão previdenciária”, adicionando “aos que se encontram em situação de informalidade” como forma de enquadrar os trabalhadores informais como trabalhadores de baixa renda.

Independentemente da conclusão da análise dos técnicos legislativos, tem havido uma profícua comunicação entre o senador Tasso Jereissati, a presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Simone Tebet (MDB-MS), e os presidentes da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), no sentido de evitar qualquer atraso no cronograma de tramitação da reforma. Caso as emendas feitas no relatório do senador Jereissati forem consideradas mudanças substanciais ao texto aprovado pelos deputados, elas serão incorporadas à chamada “PEC paralela”, proposta em apartado feita no Senado para incluir os Estados e municípios no âmbito da reforma previdenciária justamente para não comprometer o prazo de promulgação do texto oriundo da Câmara dos Deputados.

A reforma da Previdência é um dos pilares da retomada do crescimento econômico e da geração de empregos no País. Todo esforço para aprová-la o mais rápido possível é mais do que bem-vindo.

Folha de S. Paulo

Faces da violência

Assassinatos caem e letalidade policial sobe em 2018; é cedo para ver tendência

Pela primeira vez desde 2015, o número de assassinatos no Brasil recuou em 2018, caindo para 57,3 mil ocorrências. No ano anterior, haviam sido 64 mil —a queda, portanto, foi de expressivos 10%.

Com isso, a taxa nacional de mortes violentas caiu para 27,5 por 100 mil habitantes (eram 30,8/100 mil em 2017). Ainda muito alta, à frente de países como Colômbia e México, mas distante dos mais de 60/100 mil da Venezuela e de El Salvador.

O dado auspicioso figura no 13º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O compêndio reúne informações dos estados sobre mortes violentas intencionais (homicídios, latrocínios, lesões corporais seguidas de morte e mortes em intervenções policiais).

Entretanto o anuário registra uma péssima notícia: segue em alta a letalidade policial. Compilaram-se no ano passado 6.220 casos de pessoas mortas pela polícia; um ano antes, haviam sido 5.179. Um incremento, pois, de 20%.

Especialistas apontam que variações em estatísticas criminais raramente decorrem de um único fator, seja quando há aumento, seja quando há diminuição das taxas. Contudo, na percepção de leigos —e não raro no discurso político a favor da truculência policial— por vezes se faz relação causal entre a letalidade por agentes do Estado e a queda na violência.

Tal associação não se sustenta, como se pode ver no detalhamento das cifras pelos estados.
Há casos como o de São Paulo, onde quase 20% das mortes violentas ocorrem em intervenções policiais e a taxa de assassinatos é a mais baixa do país, 9,5/100 mil.

Considere-se, no entanto, o contraexemplo do Rio de Janeiro. Não obstante a polícia fluminense também matar muito (22,8% das mortes violentas), o estado exibe taxa de assassinatos (39,1/100 mil) muito acima da média nacional.

São variados os possíveis fatores a influenciar a redução geral da criminalidade letal. Eles vão da crescente coordenação entre forças policiais, em trabalhos de inteligência e prevenção, à demografia, com o encolhimento paulatino da coorte que abriga o maior número de vítimas e autores de assassinatos, isto é, homens jovens.

Em 2018, ademais, houve 46 operações com a Força Nacional de Segurança Pública, contra 33 um ano antes. Embora não resolva as causas estruturais da violência, o uso da FNSP em situações emergenciais se mostra mais recomendável que a mobilização do Exército, sem vocação para o policiamento.

É cedo, de todo modo, para dizer que se trata de uma tendência favorável. Está longe de descabida a hipótese de que houve pouco além de uma acomodação após números aberrantes de anos anteriores.

Folha de S. Paulo

A queda do falcão

Sai assessor de Trump linha-dura na política externa e próximo a Bolsonaro

Entre os muitos defeitos de Donald Trump não está o de gostar de guerras —pelo menos não daquelas que envolvem soldados. Ele prefere os conflitos em que as armas são tarifas comerciais.

Já o agora ex-conselheiro de segurança nacional da Casa Branca John Bolton pode ser descrito como um falcão renitente, que vê em bombardeios e no unilateralismo a resposta para os problemas diplomáticos dos Estados Unidos.

A diferença de visões de mundo é a razão de fundo da demissão de Bolton, o terceiro a ocupar o posto de conselheiro desde que Trump assumiu a Presidência.

As questões específicas que levaram ao rompimento, porém, ainda permanecem obscuras —não se sabe nem se foi o presidente a mandar o assessor embora ou o especialista a pedir para sair, já que cada um deles sustenta uma versão diferente do episódio.

Mais surpreendente até do que a demissão foi o convite de Trump a Bolton para que assumisse o cargo, 17 meses atrás. O único ponto em que ambos estavam de acordo era a oposição ao tratado nuclear com o Irã. Em outros temas relevantes, eram como água e vinho.

Discordavam sobre Rússia, Otan, Coreia do Norte e, mais recentemente, Afeganistão. Mesmo a convergência em relação ao Irã passou por solavancos, pois Trump, em um de seus impulsos narcísicos, flertou com a possibilidade de fazer história reunindo-se com o presidente do país persa.

No que diz respeito à Venezuela, eles talvez não pensassem de forma muito diferente. Queriam ver o ditador Nicolás Maduro fora do poder, mesmo que por meio de algum tipo de intervenção externa.

Bolton, porém, deu a Trump conselhos que se mostraram equivocados sobre a possibilidade de depor Maduro apoiando a oposição, o que contribuiu para desgastar a relação entre os dois.

A demissão de Bolton afeta, ainda que de modo limitado, o clã Bolsonaro, pois o ex-conselheiro era próximo da família do presidente. Trump, por óbvio, não vai se distanciar do congênere brasileiro por isso, mas talvez ouça menos referências positivas a ele nas reuniões com seu próximo conselheiro.

De todo modo, o republicano já deixou claro que não dá grande importância ao julgamento de especialistas. Segue seu estilo caótico, movido mais por cálculos pessoais do que por considerações de interesse público. Nisso, ele e Jair Bolsonaro se assemelham bastante.

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