MANCHETES
O Globo
Incêndios na Amazônia batem recorde em 9 anos
Bolsonaro fará quarta cirurgia após facada
Preso em voo da FAB tinha mapa de câmeras
Milícia já mata mais que tráfico no Rio
Para conter dólar, Argentina impõe controle cambial
O Estado de S. Paulo
Busca por aposentadoria cresce no serviço público
Bolsonaro fará nova cirurgia, um ano depois da facada
MEC concela orçamento das federais para 2020
Morre ex-governador de São Paulo
Relatório da PF vê indício de pagamento de hackers
Pontos de incêndio triplicam na Amazônia
Ataques a tiros matam 53 nos EUA em agosto
Folha de S. Paulo
Cresce a reprovação de Bolsonaro
Um ano após facada, presidente vai passar pela quarta cirurgia, dia 8, para retirar hérnia
‘Foi momento de fé’, afirma brasileiro que lutou na Síria
Liberação do FGTS começa dia 13; 45% pretendem sacar
Para empreender, dinheiro vem antes até do que sua mãe
Bilionária, transposição do Rio São Francisco definha no sertão
Reduto palestino é alvo de bomba de gás em São Paulo
Alberto Goldman, ex-governador de SP, morre aos 81 anos
Facebook não conseguiu evitar fake news no país, diz análise interna
Na Argentina, regras tentam brecar corrida por dólares
Valor Econômico
Novos governadores cortam os investimentos em 52,5%
Argentina limita compra mensal de dólar
Guerra comercial já atinge varejo nos EUA
Financiamento a veículos bate recorde desde 2011
Eneva planeja lançar R$ 1 bi em debêntures
Clientes ganham disputa com Multiplus na Justiça
Concessões para preservar as florestas
EDITORIAIS
O Estado de S. Paulo
A demografia e o capitalismo
Se a diminuição da população mundial é positiva para o clima, ela pode ser profundamente desafiadora para o sistema capitalista
Em artigo publicado na revista Foreign Affairs (The Population Bust: Demographic Decline and the End of Capitalism as We Know It), Zachary Karabell analisa as possíveis consequências sociais e econômicas das atuais mudanças demográficas. “A maior parte do mundo está sofrendo fortes e bruscas contrações nas taxas de natalidade ou em sua população absoluta”, escreve.
O fenômeno das mudanças demográficas drásticas ocorre também aqui. É global. Por exemplo, no ano passado, o IBGE anunciou que, diante da diminuição da taxa de fertilidade e do aumento da expectativa de vida, o bônus demográfico do País terminava não mais em 2023, como estava previsto, mas em 2018. O bônus demográfico é a situação em que o número de habitantes em idade ativa, entre 15 e 64 anos, supera o total de pessoas consideradas dependentes – os idosos e as crianças.
Apesar dos enormes efeitos que as mudanças demográficas podem ter, por exemplo, sobre o clima, a geopolítica e o capitalismo, o assunto é muito pouco discutido. “Se o mundo no futuro tiver menos pessoas, será possível ter algum crescimento econômico real? Não apenas estamos despreparados para responder a essa pergunta, não estamos nem começando a nos perguntar”, afirma Zachary Karabell.
O assunto é complexo a começar pela própria dificuldade de traçar projeções seguras. A ONU prevê, por exemplo, que a população global chegará a quase dez bilhões em 2050. Mas estudiosos em demografia acham que os números podem estar superestimados. Quase sempre as expectativas da população feitas no passado não se concretizaram. Para o pesquisador Paul Morland, do Birkbeck College, é irracional atribuir um caráter de certeza às tendências futuras sobre a população.
Mesmo que não se saiba com segurança o que ocorrerá no futuro, os dados atuais já revelam, no entanto, que o paradigma de expansão da população utilizado nos dois últimos séculos não serve mais. “Chama a atenção que o declínio da população esteja se tornando um fenômeno global quase tão rapidamente quanto o boom populacional do século 20. As taxas de fecundidade na China e na Índia, que juntas respondem por quase 40% das pessoas do mundo, estão agora no nível de reposição ou abaixo dele. O mesmo acontece com as taxas de fecundidade em outros países populosos, como Brasil, Malásia, México e Tailândia.”
Zachary Karabell lembra que a deflação demográfica pode ter um efeito positivo sobre o aquecimento global. “Dado que as emissões de carbono são resultado direto de mais pessoas necessitando e exigindo mais material – de comida e água a carros e entretenimento –, se houver menos pessoas, haverá menor demanda.”
Mas se a diminuição da população mundial é positiva para o clima, ela pode ser profundamente desafiadora para o sistema capitalista – e aqui está o cerne da reflexão do artigo de Zachary Karabell. “O capitalismo é, essencialmente, um sistema de maximização – mais produção, mais bens e mais serviços. (…) Se a população global parar de se expandir e começar a diminuir, o capitalismo – um sistema que está implicitamente baseado em um número cada vez maior de pessoas – provavelmente não será capaz de prosperar em sua forma atual. O envelhecimento da população elevará o consumo de certos bens, como os cuidados com a saúde, mas, em geral, o envelhecimento e a diminuição da população acarretarão uma diminuição do consumo”, afirma Zachary Karabell.
Se essa mudança de paradigma é por si só desafiadora, ela traz ainda maiores desafios para países como o Brasil, que não conseguiram, nem mesmo no paradigma demográfico anterior – de população crescente e jovem –, alcançar um patamar mínimo de riqueza e de produtividade. Agora, com uma população mais velha e menos jovens, tudo indica que será ainda mais difícil. Como alerta Zachary Karabell, “se não estamos bem preparados para um mundo com mais pessoas, estamos totalmente despreparados para um mundo com menos gente”. É urgente abrir os olhos para a realidade.
O Estado de S. Paulo
O jornalismo e o Congresso
Pesquisa indica que os parlamentares têm consciência da abissal diferença entre jornalismo e ‘fake news’
O principal meio de acesso à informação por deputados federais e senadores são os jornais, revela a Pesquisa sobre Consumo de Informação dos Congressistas, realizada pela Associação Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil e pelo DataPoder360. Mais do que uma boa notícia para a mídia impressa, esse dado revela que, nesses tempos de enxurradas de fake news, os parlamentares estão preocupados em obter informação de fontes qualificadas – o que é extremamente alvissareiro para a qualidade do debate público.
Realizada em junho, a pesquisa entrevistou 40 senadores e 257 deputados, respeitando a proporção das siglas no Congresso Nacional. Na pergunta a respeito dos principais meios de comunicação utilizados para se manter informado, os jornais foram os mais citados (20%), seguido de televisão (17%) e portais de notícias (16%). As redes sociais, mencionadas por 15% dos entrevistados, apareceram em quarto lugar.
Esses números são especialmente relevantes por força da renovação ocorrida no Poder Legislativo. A pesquisa indica que a atual geração de congressistas, resultado direto do desejo de mudança manifestado pela população nas eleições do ano passado, não está apenas conectada com as redes sociais e preocupada com as reações que lá são publicadas. De fato, 75% dos congressistas avaliam como importante ou muito importante a repercussão dos temas e matérias nas redes sociais para a sua atuação política e a decisão do seu voto. No entanto, o ponto fundamental é que, como a pesquisa mostra, os parlamentares da atual legislatura não estão apenas nas redes sociais. Utilizam as redes sociais, mas, quando se trata de buscar informação, eles utilizam prioritariamente meios de comunicação que fazem jornalismo.
Não corresponde à realidade, portanto, a ideia de que, nos tempos atuais, com tantas redes sociais, o jornalismo estaria se tornando menos relevante para o debate público. Em vez de sombrearem o horizonte do jornalismo, como se as fake news pudessem fazer algum tipo de concorrência aos meios de comunicação, a difusão e a circulação de notícias mentirosas apenas ressaltaram a importância da informação confiável, apurada com método e rigor. E, como indica a pesquisa, os parlamentares têm consciência da abissal diferença entre jornalismo e fake news.
O fato de que os congressistas utilizem o jornalismo para se informarem tem muitas consequências positivas para o País. Em primeiro lugar, há a possibilidade de que o debate público seja pautado pela realidade, nessa contínua busca pela verdade dos fatos. É muito perigoso para a cidadania que as leis e as políticas públicas sejam baseadas em diagnósticos distorcidos, informações equivocadas, preconceitos ou visões reducionistas. Por exemplo, como seria a votação de uma reforma da Previdência se a maioria dos deputados estivesse desinformada e pensasse que o atual sistema de aposentadorias e pensões não é deficitário? Notícias falsas podem gerar decisões políticas desastrosas.
Outro aspecto é que o jornalismo, em contínua busca pela verdade dos fatos, também pode se equivocar, mas, sendo de fato jornalismo, estará sempre pronto a retificar o eventual equívoco. Esse critério fornece uma base sólida e honesta para a negociação e a formação de maiorias e consensos. O olhar objetivo sobre a realidade é o fundamento mais firme para o diálogo. O conhecimento da realidade, por sua vez, não conduz ao conflito. O que leva à beligerância é a informação enviesada e distorcida. O que leva ao clima de acirramento e polarização é a fake news inventada deliberadamente para agredir quem pensa de forma diferente.
Só há democracia onde há liberdade de imprensa. Entre outros aspectos, a população só tem condições de exercer de fato seus direitos políticos se puder buscar livremente fontes de informação confiáveis e independentes. Da mesma forma, os representantes eleitos só poderão exercer bem sua função pública se tiverem acesso a fontes de informação confiáveis e independentes. Ou seja, a presença do jornalismo no Congresso é saudável sintoma da democracia.
O Estado de S. Paulo
Iniciativa inteligente
Ao abrir vagas para premiados e participantes de competições do conhecimento, a USP merece aplauso
Numa iniciativa que induz a rede pública de ensino médio a melhorar sua qualidade ao mesmo tempo que estimula os alunos a estudar, a Universidade de São Paulo (USP) informou que oferecerá, no primeiro semestre de 2020, 113 vagas em cursos de graduação para participantes e para medalhistas de competições de conhecimento, como as olimpíadas de matemática, física, química e biologia.
As vagas ofertadas variam de uma a três em 55 cursos de graduação. Pelas regras da USP, os candidatos devem ter participado ou ter sido premiados há dois anos, no máximo. Ao todo, a instituição levará em consideração 20 competições – 9 são brasileiras e 11 internacionais. Pelos critérios de pontuação, as competições internacionais valerão mais do que o dobro das competições nacionais. E as medalhas de ouro valerão mais do que as de prata e as de bronze.
Iniciativas como essa da USP são comuns nas mais prestigiosas universidade do mundo. No Brasil, essa experiência começou a ser posta em prática pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Em dezembro de 2018, ela anunciou a destinação de 90 vagas para ingresso exclusivo de medalhistas em seus cursos de graduação. Além dessa medida, a Unicamp também colocou em prática uma experiência inspirada na Universidade da Califórnia, em Berkeley, selecionando dois alunos da 3.ª série do ensino médio de cada uma das escolas públicas de Campinas, oferecendo-lhes um curso de formação geral, sob orientação de um professor ou de um pesquisador. Ao entrar em contato com conhecimentos básicos do mundo natural e social, os alunos selecionados desenvolvem raciocínio lógico, habilidades técnicas e aprendem a refletir sobre problemas reais, usando conceitos e métodos científicos.
No caso das competições de conhecimento, o objetivo é mostrar o lado prático do que é ensinado em sala de aula, incentivar a curiosidade das novas gerações a respeito do conteúdo das ciências exatas e biomédica, identificar talentos e atrair os melhores alunos para as careiras de cientista e pesquisador. O formato desses eventos encoraja uma competição saudável, que motiva os estudantes, melhorando seu desempenho. Na maioria das vezes, os vencedores dessas competições são excelentes alunos de graduação. Quando concluem o ensino superior, obtêm com facilidade vagas nos programas de pós-graduação das universidades públicas e em cursos de doutorado em universidades americanas e europeias.
Atualmente, no Brasil, os alunos do ensino médio já podem participar de olimpíadas de conhecimento nas áreas de informática, biologia, química, matemática, física, biologia, neurociências, astronomia, saúde, meio ambiente e agropecuária. Uma das competições mais importantes é a Olimpíada de Matemática das Escolas Públicas, que foi criada em 2005 pelo Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa). Em 2016, ela contou com 17 milhões de competidores e um número recorde de escolas inscritas, tendo concedido 500 medalhas de ouro, 1,5 mil medalhas de prata, 4,5 mil medalhas de bronze e 46,2 mil menções honrosas, além de premiar os professores que mais se destacaram.
Diante da multiplicação dessas competições, dirigentes escolares vêm propondo ao governo federal sua conversão num projeto educacional de grande alcance. Mas, por causa da inépcia que tomou conta da área educacional desde a posse do presidente Bolsonaro, nada tem sido feito nesse sentido. Até o Prêmio Professores do Brasil, que previa o reconhecimento de 500 docentes do ensino básico, foi cancelado recentemente, pegando de surpresa entidades parceiras do projeto e frustrando professores das escolas públicas que se forçaram para ensinar melhor.
Ao abrir vagas para premiados e participantes de competições do conhecimento, a USP merece aplauso. Mas, infelizmente, iniciativas importantes como essa continuam sendo exceção num país em que o governo está mais preocupado com questões de gênero nas escolas do que em melhorar a eficiência do sistema educacional.
Folha de S. Paulo
Mais reprovado
Parcela dos que consideram Jair Bolsonaro péssimo ou ruim sobe de 33% para 38%
Na primeira pesquisa Datafolha para avaliar seu desempenho, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) colheu números relativamente modestos. No início de abril, 30% dos brasileiros consideravam o governo ruim ou péssimo, fatia semelhante à daqueles que o estimavam como regular e como ótimo ou bom.
Tratava-se, para o período, da pior avaliação de um presidente eleito em início de mandato desde a redemocratização do país.
A seguir, após o sexto mês, o instituto captou uma ligeira piora dos números da popularidade de Bolsonaro. Os que consideravam o governo ruim ou péssimo passaram a 33%, e os que o viam como regular caíram de 33% para 31%.
O que poderia ter sido uma oscilação ocasional na margem de erro revelou-se, no mais recente levantamento do instituto, como um ponto numa curva de deterioração.
A taxa de reprovação subiu ao final de agosto para 38%, num avanço significativo. A parcela mais inclinada a apoiar o presidente, não desprezível, está em 29%, ante 33% apurados no início de julho.
Alguns fatores parecem contribuir para tal situação, que não pode ser considerada surpreendente.
Bolsonaro tem insistido num comportamento político e institucional tumultuoso, a buscar conflitos em variadas frentes —do Judiciário ao Legislativo, passando por educação, política externa, ambiente e produção cultural.
São raros os dias em que a nação é poupada de declarações estapafúrdias ou medidas questionáveis do chefe de Estado, empenhado em disputar consigo mesmo uma maratona de insensatez.
Não espanta que apenas 15% dos entrevistados julguem o comportamento de Bolsonaro compatível com o de um presidente da República em todas as ocasiões —e 32% opinem que em nenhuma.
Ao mesmo tempo, apesar de medidas acertadas no terreno da economia, seu governo não conseguiu até aqui mostrar-se efetivo naquilo que afeta mais diretamente a maioria da população. O Datafolha mostra que áreas fundamentais para a vida dos brasileiros, como saúde, emprego e educação, estão entre as mais mal avaliadas.
É fato que pesquisas do gênero traduzem momentos determinados vividos por governantes. As inclinações, sabe-se, podem mudar.
Bolsonaro atravessa ainda os primeiros meses do mandato e pode evitar que no futuro se veja sustentado apenas por seu núcleo eleitoral mais rígido. A economia tende a ser decisiva nesse processo.
A seu favor, o levantamento revela que 45% acreditam que o governo vai melhorar. Entretanto essas expectativas, diga-se, já foram bem mais favoráveis —em abril eram 59% os otimistas com o desempenho vindouro do presidente.
Folha de S. Paulo
Populista pragmático
Na Bolívia, Morales obtém avanço econômico manchado por seu apego ao poder
O presidente da Bolívia, Evo Morales, é um sobrevivente da onda vermelha que atingiu a América do Sul na década passada.
Nomes como Lula, Hugo Chávez (Venezuela), o casal Kirchner (Argentina), Michelle Bachelet (Chile), Tabaré Vázquez (Uruguai), Fernando Lugo (Paraguai), Rafael Correa (Equador) e Morales dominaram o noticiário regional do período, cada qual com seu quinhão de acertos e erros —estes mais visíveis hoje devido à tragédia do chavismo.
Entretanto, mais ou menos como esperado pela conjunção de ciclos econômicos com a alternância do poder, neste final dos anos 2010 grande parte desses países caminhou da esquerda para a direita, com as exceções mais notáveis de Uruguai, Venezuela e Bolívia.
O primeiro caso se explica por melhor institucionalidade e resultados satisfatórios na economia. O oposto se vê, de modo extremado, na Venezuela, que descambou para a ditadura com calamidade social.
Tanto na geografia como na política, a Bolívia se encontra no meio do caminho entre um e outro. Morales, graças à sua flexibilidade, continua no poder. Apesar de uma retórica até mais esquerdista que a de Chávez, o ex-líder cocaleiro soube administrar a política econômica com bom senso.
Quando assumiu o governo, em 2006, o Produto Interno Bruto cresceu a uma média de 4,8% ao ano — o que até certo ponto seria de esperar em um país que historicamente contabilizou a menor renda per capita do continente.
Os resultados parecem bem distribuídos. Há 13 anos, os pobres representavam 60% da população; hoje, são 35%. Mesmo admitindo que é mais fácil obter números assim quando se parte de uma base muito ruim, não há como deixar de reconhecer que a gestão de Morales se saiu bem nesse quesito.
Já em relação às instituições, não há muito a celebrar. O presidente boliviano nunca abandonou o figurino do político populista e, como alguns de seus homólogos da onda vermelha, não hesitou em torcer as regras para se manter na cadeira.
Baseado em interpretações no mínimo casuísticas, que foram aceitas pelos juízes do tribunal constitucional, ele disputará neste ano seu quarto mandato —embora a Constituição limite o número de reeleições a uma.
A resiliência de Morales também está associada a um pragmatismo que destoa de sua retórica ideológica. Recorde-se que o presidente boliviano mantém relações cordiais com Jair Bolsonaro (PSL) e não hesitou em extraditar o terrorista Cesare Battisti para a Itália.
Sua rejeição à alternância no poder, no entanto, torna parcial e incerto o progresso do país.