Estudo revela que quase 90% dos empregos dos jovens brasileiros são informais

89% dos novos empregos dos jovens são informais

Bruno Villas Bôas e Thais Carrança – Valor Econômico

Como se não bastasse o elevado nível de desemprego de jovens no país, 89% das pessoas de 18 a 24 anos de idade que conseguiram uma ocupação remunerada nos últimos 12 meses foram parar no mercado de trabalho informal, recebendo salários abaixo da média e sem garantias trabalhistas, mostra levantamento da consultoria IDados obtido pelo Valor.

Do segundo trimestre de 2018 ao mesmo período deste ano, 230 mil jovens de 18 a 24 anos conseguiram uma ocupação. Entre eles, apenas 32,5 mil eram empregos no setor privado com carteira. O restante foi parar em empregos precários, principalmente em vagas sem carteira (85,1 mil) ou no trabalho por “conta própria” sem CNPJ (119 mil).

Os dados chamam atenção num momento em que o governo finaliza um pacote de medidas que inclui o estímulo ao primeiro emprego de jovens, por meio da desoneração da folha de pagamento. O pacote também deve incluir outras medidas como reforço de programas de qualificação profissional e acesso facilitado ao microcrédito.

O levantamento mostra que os empregos com carteira de trabalho assinada foram gerados especialmente nas atividades chamadas de “outros serviços” (41,6 mil vagas líquidas), categoria que reúne profissões como cabeleireiros, embelezamento e cuidados pessoais. Outras 26,9 mil vagas foram criadas no setor de agricultura e pesca no período.

Ao mesmo tempo que esses setores geraram empregos com carteira para jovens, o saldo foi negativo para atividades de comércio (32,5 mil vagas fechadas de forma líquida), construção civil (-21,1 mil vagas) e educação (-9.800 postos), no segundo trimestre deste ano, sempre considerando a comparação ao mesmo período do ano passado.

Segundo José Pastore, professor de relações de trabalho da Universidade de São Paulo (USP), são dois os fatores principais que explicam a dificuldade do jovem em conseguir emprego. “As empresas consideram que o jovem não tem experiência, então não dão preferência a ele”, afirma. “E os encargos sociais são os mesmos para contratar alguém com experiência ou sem, o que desestimula a contratação do jovem.”

Pastore avalia que a desoneração de folha é, dessa forma, boa por atacar um dos fatores que inibem a contratação dos jovens. Já os programas de qualificação em parceria com o Sistema S, também parte do pacote, enfrentam a outra ponta da questão.

O sociólogo reconhece, porém, que reduzir o custo do trabalho não resolve sozinho o problema. “O emprego depende de investimentos e crescimento econômico, mas, dentro do atual quadro de baixo crescimento, um estímulo às empresas abrirem as portas é uma medida necessária”, afirma Pastore.

Uma parcela significativa dos jovens de 18 a 24 anos segue em busca de oportunidade de trabalho. Mesmo mais escolarizados do que as gerações anteriores, muitos desses jovens profissionais esbarram na falta de experiência para acessar o mercado de trabalho e também acabam sendo alvo mais frequentes em momentos de corte.

Dados do IBGE mostram que 4 milhões de jovens de 18 a 24 anos estavam desempregados no segundo trimestre deste ano. Dessa forma, a taxa de desemprego da faixa etária estava em 25,8% no segundo trimestre deste ano. Esse percentual é três vezes mais elevado, por exemplo, do que na faixa de 40 a 59 anos, que está em 7,2%. O desemprego médio geral estava em 12%.

Se incluído nesses cálculos os jovens subocupados (empregados, mas que gostariam de trabalhar mais) e da chamada força de trabalho potencial (que não buscam emprego, mas estão disponíveis), 7,2 milhões de pessoas de 18 a 24 anos têm a mão de obra “desperdiçada”. Essa é a medida chamada de subutilização, cuja taxa estava em 41% no segundo trimestre deste ano.

Com um quadro geral tão ruim de emprego, os profissionais mais jovens também sofreram com o encolhimento salarial. Na média, a renda caiu de R$ 1.191 no segundo trimestre de 2018 para R$ 1.173 no mesmo período deste ano, baixa de 1,5%. É um desempenho pior do que a média geral dos trabalhadores, que viram a renda cair 0,2%.

Para Sérgio Firpo, professor do Insper, a desoneração da folha de pagamentos como estímulo à contratação de jovens pode ser um paliativo ao desemprego nas faixas etárias mais baixas, mas melhor política é estimular o jovem a permanecer na escola.

“O desemprego entre a juventude é alto em todos os países, mas, no Brasil, ele cresceu muito recentemente por causa da crise”, observa Firpo. “Muitos jovens tiveram que ajudar a recompor renda familiar, entrando precocemente no mercado de trabalho. Isso afetou a capacidade deles de acumular capital humano e ter renda futura mais alta.”

Nesse cenário, o economista avalia que, pensando na renda futura e no crescimento da produtividade, seria mais importante gastar recursos públicos para aumentar a qualidade da educação – particularmente no ensino médio público, em que a evasão é elevada – ou em incentivos às famílias dos jovens para que eles se mantenham na escola.

O professor também avalia que um escalonamento do salário mínimo por faixa etária talvez fosse uma medida mais bem focalizada do que a desoneração de folha, embora mais difícil de tornar viável. “Criar subsídio para as firmas contratarem jovens me parece uma forma de universalizar algo que poderia ser focado naquele jovem que não tem emprego porque o salário mínimo é muito elevado para aquilo que ele consegue agregar de produtividade às empresas”, afirma. “Talvez fosse o caso de se pensar em ter diferentes pisos salariais dependendo da idade.”

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