O País celebra nesta terça-feira (10) o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. Por conta disso, entidades como CVV (Centro de Valorização da Vida), CFM (Conselho Federal de Medicina) e ABP (Associação Brasileira de Psicologia) se mobilizaram e criaram, em 2015, a campanha “Setembro Amarelo” com objetivo de conscientizar a sociedade brasileira sobre o tema.
Segundo dados da OPAS (Organização Pan-americana de Saúde) atualizados em 2018, cerca de 800 mil pessoas morrem todos os anos por suicídio. Estima-se que, para cada morte consumada, existem muito mais pessoas o tentam. Ainda segunda a Organização, o suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens com idade entre 15 e 29 anos, além de 79% dos casos ocorrem em países de baixa e média renda. A ingestão de pesticidas, enforcamento e armas de fogo estão entre os métodos mais comuns de suicídio em nível global.
Quando se analisa o Brasil, a OMS (Organização Mundial de Saúde), afirma que o País tem um suicídio a cada 45 minutos. Ao analisar o planeta, a organização destaca que existe uma tentativa falha de tirar a própria vida a cada três segundos e uma definitiva a cada 40 segundos.
O suicídio configura-se como um grave problema de saúde publica, porém podem ser evitados em tempo oportuno com base em evidências e com intervenção de baixo custo. Para isso, é preciso uma efetiva prevenção e respostas governamentais em uma ampla estratégia multissetorial.
Apesar da relação entre distúrbios suicidas e mentais, em particular, a depressão e o abuso de álcool, esteja bem estabelecida em países de alta renda, muitos suicídios ocorrem de forma impulsiva em momento de crise como a capacidade de lidar com os estresses da vida tais como questões financeiras, términos de relacionamentos, dores crônicas e doenças.
Além disso, enfrentamento de conflitos, desastres, violência, abusos ou perdas e o senso de isolamento estão fortemente associados a comportamentos suicidas. As taxas de suicídio também são elevadas em grupos vulneráveis que sofrem discriminação como refugiados e migrantes; indígenas; o público LGBTI; e pessoas privadas de liberdade.
Difícil de falar
O psicólogo e coordenado nacional do Diversidade 23, Eliseu Neto, em entrevista (veja abaixo) ao portal do Cidadania, afirmou que a prevenção e conscientização do problema é fundamental, já que o assunto é um tema difícil de tratar. Para ele, ter uma data é importante e destacou que os partidos políticos devem se apropriar do assunto e levar para toda a sociedade com campanhas estaduais e municipais.
Qual a importância do Dia Mundial de Prevenção do Suicídio e do Setembro Amarelo?
Eliseu Neto: A prevenção do suicídio é muito importante porque é um tema difícil de falar. As pessoas possuem dificuldade de falar sobre isso. O Brasil tem uma crise grande de saúde mental. As escolas não trabalham mais com isso. Faltam psicólogos. Faltam profissionais. Ter um mês para falar sobre isso é fundamental e os partidos políticos, se apropriando disso, podem fazer campanhas municipais. É fundamenta trazermos a tona.
O que os partidos políticos e o poder público podem fazer para diminuir os índices de suicídio no País? O que falta?
É importante lembrar que a educação vem dos partidos que trabalham com gestão pública. Então, prefeitos e vereadores devem levar o debate para os seus municípios e estados. Pensar em políticas públicas e saúde mental. Principalmente na educação e nas escolas onde os estudantes perderam espaço de falar sobre o tema. Isso é fundamental.
O tema é um tabu na sociedade mundial, sobretudo na brasileira, como quebrar isso e a importância de conscientizar a sociedade?
Temos dificuldade de falar sobre sexualidade, de morte e de dinheiro. São os três grandes tabus. Suicídio é uma das principais causas de morte entre jovens no mundo e vem crescendo no Brasil. Depressão é um mal muito sério. Então é muito importante falar do assunto, mas saber falar sobre o assunto. A imprensa, com razão, evita divulgar casos de suicídio porque pode estimular. Por outro lado, é importante falar sobre depressão, tristeza e crises. Dizer onde o jovem pode buscar ajuda. Em tempos de crise, como vivemos hoje, com desemprego por exemplo, a angustia pode levar a isso [ao suicídio]. É muito comum ver pessoas que tentaram praticar o suicídio se arrependem na última hora. Criar espaços de conversa é fundamental.
O que leva uma pessoa a tirar a própria vida? Quais são os grupos que sofrem maior risco?
Várias coisas podem levar a pessoa ao suicídio. Pode ser um problema mental instalado. Uma melancolia muito severa e que tem no suicídio uma saída. Contudo, muitas vezes, o suicídio pode ser desestimulado ou prevenido. Perceber essa tristeza exagerada e criar mecanismo é fundamental para lutar contra esse drama. Temos uma sociedade que acha que psicologo é apenas para quem tem problemas e não é. O psicologo é prevenção e promoção de saúde.
É notório que o suicídio apresenta um índice elevado em pessoas LGBTI. Você como coordenador nacional do Diversidade 23, como avalia isso?
Temos dados que falam que o suicídio mata uma pessoa a cada 40 segundos no mundo. O Brasil vive essa questão muito seria de trazer porte de armas de volta. Temos que pensar sobre isso. O suicídio tem muito a ver com a oportunidade. Muito mais difícil uma pessoa se matar com remédios e faca do que com um tiro. Essa discussão tem que ser trazida a tona pelos partidos políticos. Temos que pensar o que é uma arma dentro de casa. Algo que precisamos pensar. Quais são os grupos que sofrem maior riscos? Adolescentes. Que passam por uma grande transformação emocional. Depressão porque não trabalha, saindo da dependência para a independência. Idosos. Muito comum, porque não temos um sistema de amparo do idoso de qualidade no Brasil. São grupos que precisam ser olhados com muito cuidado. LGBTs tem índices altíssimos de suicídio. Em cada sete ou oito suicídios, seis são de jovens gays. Principalmente os meninos. Os homens já são o grupo de maior risco de suicídio. Os homens gays maior ainda por conta da pressão e das influencias sociais.
O que as pessoas que possuem pensamento suicida devem fazer? Qual é o primeiro passo?
É difícil responder pessoas com pensamento suicida. Varias situações diferentes podem levar ao suicídio. Uma melancolia. Uma bipolaridade. Um momento. Uma crise. O importante é buscar ajuda. Grupos de valorização da vida e de ajuda. O importante são as redes de apoio. Os pais precisam ficar atentos. Saber quem pode observar isso antes. Quem pode ajudar essa pessoa e criar essa rede de relacionamentos. Não achar que é bobagem, brincadeira ou drama. A criança muitas vezes fala, acham que é bobagem, e a criança vai ao ato [do suicídio]. Toda fala de uma pessoa sobre morte ou suicídio tem q ser levada em consideração. Porque é um pedido de ajuda. Ninguém fala algo do tipo atoa. Temos que ampliar a ideia de que as pessoas devem procurar o psicologo como um promotor de saúde. Podemos estar bem e melhorar. Esse profissional é fundamental.
O que você diria para uma pessoa que pensa se suicidar?
O primeiro que falamos são os chavões. De que vai passar. Que a vida é boa. Etc. Mas vou deixar aqui um recado especial para quem é LGBT por ser um grupo muito atingido. O preconceito é uma realidade. Os pais falam coisas, que não é o que sentem, mas muitas vezes movidas por um preconceito. O que podemos dizer é que isso pode mudar. Os pais com o tempo podem aprender e aceitar. Se não entenderem, a vida dá novas famílias que podem ser construídas. É preciso se resiliente. Enfrentar um pouco as situações. O suicídio é visto muitas vezes como uma saída, mas não é. É uma desistência.