Bolsonaro recebeu a viúva de Carlos Brilhante Ustra, ex-chefe do DOI-Codi durante a ditadura
GUSTAVO MAIA E GUILHERME CAETANO – O Globo
O presidente Jair Bolsonaro chamou ontem de “herói nacional” o coronel reformado do Exército Carlos Brilhante Ustra, morto em 2015 e acusado de prática de tortura durante o regime militar. Ele recebeu em seu gabinete a viúva do militar, Maria Joseíta.
—Não tive muito contato, mas tive alguns contatos com o marido dela enquanto estava vivo. Um herói nacional que evitou que o Brasil caísse naquilo que a esquerda hoje em dia quer — disse Bolsonaro.
Ustra foi o primeiro militar brasileiro a responder por um processo de tortura durante a ditadura. O Dossiê Ditadura, da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, relaciona o coronel com 60 casos de mortes e desaparecimentos em São Paulo. A Arquidiocese de São Paulo, por meio do projeto Brasil Nunca Mais, denunciou mais de 500 casos de tortura cometidos dentro das dependências do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações) no período em que Ustra era o comandante, de 1970 a1974.
A admiração de Bolsonaro por Ustra já tinha sido manifestada em outras ocasiões. Ele exaltou o militar, por exemplo, como o “pesadelo de Dilma (Rousseff)”, na votação do impeachment da ex-presidente.
Visto com repulsa na esquerda, Ustra divide até grupos da direita. Poupado de críticas por alguns e adorado pela ala mais radical, o militar é criticado pelo Movimento Brasil Livre (MBL).
— O Bolsonaro, em vez de se preocupar com coisas interessantes, fica arrumando a confusão do dia para polarizar o debate público e empobrecer a discussão. O voto dele ajudou a manchar o impeachment — diz Renan Santos, coordenador nacional do MBL.
Outras lideranças da direita pouparam Ustra de críticas. Tomé Abduch, porta-voz do movimento Nas Ruas, diz não ter propriedade para tratar do assunto. Adelaide Oliveira, coordenadora do Vem Pra Rua, segue a mesma linha. Ela afirma não ter opinião sobre Ustra e que não é um assunto que a interesse.