Bolsonaro assume nomeação de parentes em cargos públicos

‘Botei parentes no passado, sim’, diz Bolsonaro

Ao comentar reportagem que mostrou a nomeação de 102 pessoas com laços familiares entre si nos gabinetes da família Bolsonaro, presidente diz que não cometeu ilegalidades e que respeita súmula do STF sobre nepotismo

BRUNO GÓES – O Globo

O presidente Jair Bolsonaro defendeu em entrevista coletiva ontem a nomeação de parentes para cargos públicos e reiterou sua intenção de indicar seu filho Eduardo Bolsonaro, deputado federal, para o cargo de embaixador brasileiro em Washington, nos Estados Unidos. Reportagem publicada na edição de ontem do GLOBO mostrou que ele e seus três filhos políticos empregaram em seus gabinetes parlamentares 102 pessoas com laços de parentesco entre si ou com a própria família Bolsonaro, de 1991 até 2018. — Que mania que todo parente de político não presta. Eu tenho um filho que está para ir para os Estados Unidos e foi elogiado pelo (Donald) Trump. Vocês massacraram meu filho, a imprensa massacrou, (chamou de) fritador de hambúrguer — disse Bolsonaro.

O presidente inicialmente rebateu a reportagem dizendo nem ter 102 parentes, mas quando os repórteres o alertaram de que a matéria trata também de familiares de funcionários, o presidente disse ter nomeado parentes seus apenas antes de o Supremo Tribunal Federal (STF) editar, em 2008, a súmula que define casos de nepotismo (nomear cônjuges ou parentes de até terceiro grau em cargos de comissão). A reportagem mostrou que Bolsonaro já empregou em seu gabinete na Câmara seus ex-sogros. — Já botei parentes no passado, sim, antes da decisão de que nepotismo seria crime. Qual é o problema? —disse o presidente.

MINISTROS COM PARENTES

Bolsonaro sustentou ser “natural” substituir funcionários por parentes destes em caso de pedidos de demissão ou falecimento: — É natural quando alguém vai embora do meu gabinete… Quando morre, no velório já tem dez pedidos de emprego de quem está do meu lado. E é natural colocar quem está do seu lado. O presidente reclamou de a reportagem ter levado em conta nomeações desde quando ele entrou para a vida pública. Disse ainda que, no caso de uma de suas ex-mulheres, Ana Cristina Siquei Valle, os parentes teriam sido empregados antes de seu casamento.

— Vocês foram procurar funcionária que eu empreguei em 1989. Faz as contas aí. 30 anos. E outra coisa: quando eu botei os parentes da Ana Cristina, eu não era casado com ela. Casei uns dez, nove anos depois. E aí? Vou devolver o salário de todo mundo? O levantamento mostra, no entanto, que os parentes de Ana Cristina estiveram lotados em gabinetes do clã Bolsonaro enquanto ela e o presidente estavam juntos e também depois.

Bolsonaro lembrou o fato de que sua atual esposa, Michelle, já era funcionária da Câmara em outro gabinete quando começou o relacionamento. Disse que questionou a Casa se deveria “renunciar” ou se ela deveria se demitir. Por fim, após um tempo lotada no gabinete do próprio Bolsonaro, ela deixou a função. Sem dar detalhes, o presidente afirmou que algum ministro pode ter parentes empregados em funções públicas. O atual ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Antonio Francisco de Oliveira, também teve familiares empregados nos gabinetes dos Bolsonaro. Foram três — pai, mãe e tia —em períodos distintos entre 2001 e 2015.

— Se você for procurar, com certeza tem ministro que tem parente empregado por aí —disse Bolsonaro. Na manhã de ontem, Bolsonaro foi à Igreja Fonte da Vida, em Brasília, onde participou de um culto. O presidente foi chamado de “mito” pelos fiéis e se emocionou ao abraçar o pastor César Augusto. No discurso na igreja, Bolsonaro se referiu à reportagem do GLOBO. — A imprensa diz muito que eu ainda estou no palanque. Eu devolvo: a imprensa ainda está na oposição. — afirmou. — Por muitas vezes não leio jornal para não começar o dia envenenado.

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