Li que o PDT ameaça de expulsão a deputada Tabata Amaral caso ela vote favoravelmente à reforma da Previdência em apreciação na Câmara dos Deputados.(1)
Boa parte dos líderes partidários que se opõem à reforma sem apresentar um projeto alternativo o fazem por oportunismo e desonestidade política.
Eles sabem perfeitamente que o Brasil precisa ajustar seu gasto corrente à arrecadação, de modo a equilibrar o orçamento, controlar a dívida pública e recuperar a capacidade de investimento do Estado brasileiro, fundamentais para a retomada do crescimento.
Eles têm perfeita consciência de que um dos motivos do fracasso do Plano Cruzado foi a falta de medidas de ajuste evitadas pelo populismo do presidente José Sarney, que preferiu praticar um estelionato eleitoral nas eleições constituintes de 1986.
E sabem que uma das causas dos êxitos do Plano Real em controlar a inflação foi exatamente o maior controle do gasto público.
Na campanha eleitoral de 2010, todos os candidatos, inclusive Dilma Rousseff, sabiam da necessidade de fazer um superávit primário da ordem de 3,5% do PIB para manter a dívida pública então na casa dos 30% do PIB, como recomendavam diversas opiniões econômicas para países de renda media como o Brasil, inclusive aquelas autointituladas de desenvolvimentistas.
Sabemos que hoje a dívida pública caminha para 90% do PIB depois de gestões econômicas irresponsáveis.
Desde 2012 que o Brasil não faz superávit primário, o dinheiro necessário para pagar os juros da dívida. O país tem refinanciado os serviços e o principal da dívida.
A maquiagem das contas públicas, seja com a “contabilidade criativa” seja com as “pedaladas fiscais”, veio à tona após as eleições de 2014. Mais um estelionato eleitoral se revelou e a partir de então o déficit público explodiu.
Apesar da retórica populista, esses líderes partidários que se opõem a medidas de ajuste fiscal fazem conscientemente ou inadvertidamente o jogo do rentismo e do capital financeiro, uma vez que o endividamento obriga o governo a captar recursos no mercado financeiro e a pagar juros cada vez mais altos.
Para um agiota e para uma administradora de cartão de crédito, nada melhor do que um cliente permanentemente endividado a pagar juros.
Esses líderes partidários foram beneficiários de doações de campanhas dos grandes bancos nas suas campanhas eleitorais (2).
Não ouvi desses senhores nenhuma crítica às altas aposentadorias da elite do serviço público nos diversos níveis da federação, responsáveis pelo o grande rombo das previdências dos servidores.
E agora querem acabar de desmoralizar a esquerda brasileira, cujo mais expressivo candidato ficou em quarto e até quinto lugar em diversas zonas eleitorais da cidade de São Paulo no primeiro turno da última campanha presidencial.
Como escreveu o escritor português José Saramago, Prêmio Nobel de Literatura, ao criticar a repressão do regime cubano aos dissidentes: “agora chega!”
Expresso minha solidariedade à jovem deputada Tabata Amaral, uma esperança de renovação do pensamento democrático e social brasileiro.
Cláudio de Oliveira, jornalista e cartunista
NOTAS
(1) PDT ameaça expulsar Tabata Amaral caso vote a favor da reforma da Previdência
https://tinyurl.com/y23zvqct
(2) Doação de bancos a PT cresceu cerca de 1.000% desde 2002
https://tinyurl.com/y2gkcpug