Eliziane Gama: Arma de fogo não é bem de consumo

“Aí fica a pergunta: por que essa cruzada a favor da arma de fogo, que infelizmente tem o apoio de parte considerável da sociedade?”

O governo federal, dando sequência às propostas de campanha, vem adotando medidas concretas para ampliar a liberdade de posse e porte de arma de fogo no país, algumas delas historicamente de uso restrito das Forças Armadas e de outras áreas de segurança, privadas ou públicas.

E são dois os argumentos principais usados pelos apologistas da medida: o da defesa da propriedade e o de instrumento de dissuasão, que em última instância redundaria em mais segurança para o cidadão.

O primeiro argumento, se tem alguma base histórica, ela se perdeu ao longo do tempo, com o desenvolvimento das sociedades, com o processo massivo de urbanização, com a organização capilar da economia e da sociedade civil, com a ampliação dos braços do Estado em todas as unidades da Federação. O tempo da ampliação heroica de fronteiras em que uma arma tinha importância relativa alta ficou para trás.

Se estamos falando do interior profundo, a arma também não tem mais nenhuma grande serventia para se proteger de animais ferozes ou para prover a alimentação da família pela prática da caça.

Quanto ao argumento da dissuasão, estudos e pesquisas em segurança apontam que a arma não protege o cidadão, pelo contrário, deixa-o mais exposto ao crime seja por falta de competência no seu manuseio seja pela cultura que impele a pessoa de bem a ser mais lenta no acionamento do gatilho em situação de perigo. O bandido atira primeiro.

Aí fica a pergunta: por que essa cruzada a favor da arma de fogo, que infelizmente tem o apoio de parte considerável da sociedade?

Nesta campanha, no núcleo duro do movimento, certamente pairam muitos interesses escusos de pessoas e grupos que querem ganhar muito dinheiro com a indústria e o comércio de armas, munição, serviços, recreação. É impressionante, em todos os países a campanha a favor de armas de fogo sempre vem de braços dados com o pensamento de uma direita radical.

A arma, por definição, e mais no mundo de hoje, está ligada à morte e não à vida e eu sou uma defensora da vida. A sua liberação ampla no Brasil vai ceifar mais vidas inocentes, potencializar atitudes suicidas, privilegiar a agressão ao diálogo. Também vai trazer grandes dificuldades à ação policial que a cada porta, a cada esquina, a cada pequeno chamado poderá estar se defrontando com uma arma de fogo e, assim, tenderá a recorrer a abordagens mais truculentas no trato com o cidadão.

Um país democrático e vocacionado à paz não pode conviver com arma de fogo nas mãos de seus filhos.

Arma de fogo jamais pode ser vista como um bem de consumo, ou de prazer. (Congresso em Foco – 25/05/2019)

Eliziane Gama, senadora, líder do Cidadania no Senado Federal

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