Todos que querem um Brasil mais justo e menos desigual precisam pensar no Nordeste, região com profunda desigualdade e emprego e renda dos baixos do país. Precisamos apresentar esse pensamento partindo de Sergipe. A vantagem de ser o menor estado da região, espremido entre gigantes, é não alimentar ilusões de grandeza nos cenários nacional e regional. É ter a clareza de que a região só atingirá todo seu potencial quando cada estado colocar seus interesses de lado em nome de uma estratégia comum. O encontro desta sexta-feira, no Recife, para construir a muitas mãos o Plano de Desenvolvimento Regional do Nordeste (PRDNE) é a chance de transformar esse potencial em realidade.
O menor estado do país, com a menor população, recentemente descobriu grandes reservas de petróleo leve de alta qualidade e já registra enorme potencial de produção de gás, ultrapassando países como a Bolívia. Mais que produção local, isso significa a possibilidade de desarmar rivalidades históricas em nome da integração da indústria petroquímica da região, do gasoduto Bahia-Sergipe às refinarias em Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte, chegando ao Maranhão como um complexo regional único.
O menor mercado consumidor do Nordeste força qualquer sergipano a produzir pensando a região e o Brasil. Sergipanos como João Carlos Paes Mendonça e José Augusto Vieira são prova viva do que falo. É preciso institucionalizarmos essa disposição. É isso que faz o Consórcio Nordeste quando lança uma licitação para a região, permitindo que Sergipe faça compras públicas com o preço de quem compra para 50 e não 2 milhões de habitantes. Esse é o tipo de estratégia onde todos só têm a ganhar. Igual é o potencial de transformar o PRDNE no maestro dos recursos e programas do governo federal. Principalmente potencializando o uso do Fundo Constitucional do Nordeste, patrimônio por excelência de cada nordestino.
O PRDNE olha para o futuro e tem a inovação na sua base e na sua alma. Transforma a região em grande Porto Digital, seguindo o exemplo pernambucano. Integra a sergipana Universidade Tiradentes com o Instituto Internacional de Neurociências de Natal (IINN), devolvendo os cérebros nordestinos feitos paulistas pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e aproveitando regionalmente patrimônios como é a educação cearense.
Temos, como região, das maiores insolações do globo e o potencial de produção, desenvolvimento e implantação dos maiores parques eólicos da América Latina; a criatividade das confecções espalhadas por vários estados e o empreendedorismo de quem convive com o maior semiárido do mundo. Do Piauí à Paraíba, passando por Alagoas e Bahia, não faltam oportunidades de integração produtiva. Só nos falta a ambição de pensar como um só coração nordestino.
Só haverá solução para o Brasil quando houver solução para o Nordeste. Só haverá uma solução para o Nordeste quando os estados aceitarem que nossos destinos caminham inexoravelmente juntos. Sergipe é pequeno demais para alimentar ilusões de auto-suficiência. É desse lugar que faço o clamor para que transformemos um encontro entre governadores e presidente com posicionamentos políticos opostos na oportunidade de construir juntos um projeto único de Nordeste. (Diário do Nordeste – 24/05/2019)
Alessandro Vieira, senador do Cidadania de Sergipe