Com o baixo desempenho da economia, cresce o risco de o Brasil ter recessão técnica

Economia patina e cresce o risco de o país ter uma recessão técnica

Projeção é de queda no PIB no 1º trimestre. Resultado do fim de 2018 pode ficar negativo após revisão

Cássia Almeida e Bárbara Nóbrega – O Globo

O presidente Jair Bolsonaro vai começar o governo com queda no Produto Interno Bruto (PIB), se as projeções de analistas se confirmarem. As previsões vão de –0,2% a +0,2%.

E não está descartada a recessão técnica, quando há dois trimestres seguidos de redução no PIB, se houver revisões nos números do último trimestre de 2018, quando o crescimento foi de apenas 0,1%.

Normalmente o IBGE revisa os dados inicialmente divulgados do PIB quando apresenta os novos resultados do trimestre seguinte.

Dois trimestres seguidos de queda, que configuram uma recessão técnica, é uma situação que o país não vive desde o fim de 2016.

O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, cortou a previsão do desempenho da economia entre janeiro e março deste ano. Ele antes previa um número positivo e, agora, estima queda de 0,1% frente ao fim de 2018.

Ele também revisou sua projeção para o desempenho do resultado fechado do ano, de 1,5% para 1,4%:

— Os números foram muito ruins. O varejo dá sinais bastante fracos em março. O quadro é de estagnação, mas pode haver uma surpresa com dois trimestres de queda. Configura uma recessão do Bolsonaro, já que ele estava eleito no fim do ano. Não dá para descartar completamente essa possibilidade. Talvez esses números negativos ajudem o Congresso a ver a urgência da situação e aprove a reforma da Previdência.

O corte nas projeções do ano foi generalizado. O Boletim Focus, que reúne expectativas de mais de cem analistas de mercado, mostrou que as estimativas baixaram de 1,7% para 1,49%, em apenas uma semana. O Bradesco reduziu sua projeção para o ano de 1,9% para 1,1%, a mesma taxa do ano passado.

O governo também já atualizou suas previsões diante do crescimento menor para 1,5% este ano. A queda na produção industrial de março de 1,3% foi um dos principais motivos para o corte forte nas previsões:

— A indústria teve esse papel de trazer esse crescimento para baixo. Do lado da demanda, consumo e investimento e exportação estão ruins. São números ruins para todo o lado. Quase a totalidade dos setores vão vir piores que no quarto trimestre do ano passado. É uma piora generalizada na economia como um todo — afirma Vale.

Silvia Matos, coordenadora Técnica do Boletim Macro da Fundação Getulio Vargas (FGV), também está revisando suas projeções para baixo. Alerta para segunda queda seguida do investimento, que deve ter recuo forte no primeiro trimestre. No fim do ano passado, o setor teve queda de 2,5%:

— O grande destaque negativo será o investimento. Deve contrair bastante no trimestre. A produção de máquinas e equipamentos, depois de ter ido relativamente bem, cresceu pouco nesse início de ano. A produção e importação de bens de capital foram muito ruins no trimestre depois de um fim de ano que já fora ruim.

Segundo Silvia, não é só a fraqueza da demanda doméstica, há um componente da incerteza, avaliação negativa da capacidade do governo de conduzir esse processo da reforma da Previdência.

— Gastamos muito energia e sem conseguir muitos resultados. Há risco de a reforma ser desidratada e ter outras derrotas em outras frentes. Esse embate entre governo e Congresso parece um presidencialismo de confronto. Nem sabemos se a agenda liberal é de verdade mesmo.

Fernando Montero, economista-chefe da corretora Tullett Prebon Brasil, calculou que o tombo dessa crise que vem desde 2014 já é o maior da História, se tomarmos por base a queda do PIB per capita desde o início da crise até 2020. Um recuo de 0,83% ao ano, o que acumula redução de 5,7% no período. Desde o início do século passado, o Brasil já perdeu três décadas de crescimento:

— Repetir o desempenho do ano passado é muito pior hoje. Não temos a greve dos caminhoneiros que tirou meio ponto percentual do PIB em maio e o calendário é favorável com três dias úteis a mais. Parece pouco, mas sempre ajuda. A Argentina está cortando importações, mas em cima de uma base muito alta. Cada dia é uma desculpa. É eleição, copa, crise dos Estados Unidos, desaceleração mundial. Será que vai precisar de um mundo ideal, um Brasil ideal para a gente conseguir crescer 2%.

Para ele, uma saída é a queda de juros, que Montero acredita que pode acontecer se houver uma sinalização positiva sobre aprovação da reforma da Previdência, abrindo espaço para corte de juros:

— Há pouca demanda e juros altos. Se a sinalização for que a reforma vai passar, significa que vamos ter mais PIB com menos juros.

Alberto Ramos, diretor de pesquisa para América Latina do Goldman Sachs, alerta que, no atual ritmo de crescimento, o país teráduas décadas perdidas em 40 anos. Andamos para trás em metade dos últimos 40 anos.

“É realidade marcante e desconfortável que o crescimento da renda real per capita desapontou durante as últimas quatro décadas (ou por duas gerações agora). De fato, em duas das quatro décadas mais recentes, o Brasil provavelmente verá um declínio do crescimento do PIB real per capita: os anos 80 e provavelmente os de 2010. Ou seja, em 40 anos o Brasil terá testemunhado duas décadas perdidas”, diz o relatório do economista.

Thiago Xavier, economista da Tendências, está com previsão positiva para o primeiro trimestre de 0,2%, taxa que já foi o dobro, 0,4%. A projeção para o ano caiu de 2% para 1,6%:

— A indústria, que dava sinais de melhora, mostrou resultados ruins. No primeiro trimestre achamos que estávamos caminhando para reduzir as perdas, mas não tivemos a recuperação da construção e há a queda com a indústria extrativa, com o minério de ferro, após Brumadinho. Agropecuária cresceu menos do que esperávamos.

Thais Zara, economista-chefe da Rosenberg Associados, está mais pessimista que Xavier. Ela prevê queda de 0,1% no PIB do primeiro trimestre. E reduziu sua estimativa para o resultado fechado no ano de uma expansão de 2,3% para 1,5%.

— O ritmo de atividade vem se mostrando mais fraco do que o imaginado. (O Globo – 11/05/2019)

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