Veja as manchetes e editoriais dos principais jornais hoje (12/04/2019)

MANCHETES

O Globo

Governo envia ao Congresso autonomia do Banco Central
Aposentado ganha mais que servidor ativo em 14 estados
Monitoramento de rios cariocas está parado desde 2017
Crivella se desdiz e decreta estado de calamidade
Poderes da oração
Julian Assange: Fundador do WikiLeaks é preso em Londres após romper com Equador

O Estado de S. Paulo

Bolsonaro faz pacote para tirar promessas do papel
Governo prevê rombo fiscal em 2020 acima de R$ 110 bi
Maia: reforma tributária que está na Câmara terá prioridade
Lucro de bancos foi de quase R$ 100 bi em 2018
Aluno de ensino domiciliar terá de ir a escola se for reprovado
Outro jovem é investigado por incitar ataque em Suzano
Desaparecidos ‘somem’ em Brumadinho
Fundador do WikiLeaks é preso

Folha de S. Paulo

Reforma cria trava para obter remédio por decisão judicial
Após 100 dias, Bolsonaro cumpre 24 de 35 objetivos
Michel Temer – ‘Resolvi enfrentar porque eu não vou cair, não há provas’
Aluno de ensino a distância é vetado por conselhos Conselhos profissionais
Assange é preso em Londres após 7 anos asilado

Valor Econômico

Apoio à reforma na Câmara aumenta 35% em um mês
Cintra confirma imposto que lembra a CPMF
PGR investiga acusação de propina a Maia
Cem dias
Plano tem 67 medidas para mercado de capitais
FBI liga dona da Gradual a Marcos Elias
Foton entra na disputa pela fábrica da Ford
Caso Ghosn põe em discussão o sistema judiciário do Japão

EDITORIAIS

O Globo

Para não repetir os erros dos primeiros cem dias

Início do governo Bolsonaro consegue vitórias, e o acúmulo de derrotas está no campo político

É uma tradição nos países democráticos, não apenas no Brasil, medir o pulso da popularidade do presidente recém-empossado,
sabendo-se que ela tende a se esvair em alguma proporção, à medida que a realidade se impõe no gabinete presidencial, e exige
medidas que nunca agradam a todos. Governar é também gerenciar dissabores em nome do bem coletivo. Em recente pesquisa
Datafolha, a erosão do tempo, nestes primeiros cem dias de poder, deixa marcas em Bolsonaro mais profundas do que em
antecessores neste mesmo período — 30% de desaprovação.

Mas não se podem desconhecer aspectos positivos da ainda curta administração, muitos deles decorrentes da acertada decisão de
construir dois núcleos administrativos fortes para enfrentar os mais graves problemas do país: o Ministério da Economia, de
Paulo Guedes, para enfim o Brasil fazer a necessária reforma da Previdência, mas não só; a pasta da Justiça e Segurança
Pública, entregue ao ex-juiz Sergio Moro, também com missões estratégicas, em que se destacam o enfrentamento da
criminalidade, cada vez mais forte e organizada, e o lançamento de fundações legais, com o Congresso, para o também
imprescindível combate à corrupção.

Ele está em curso, mas é necessário evitar retrocessos. Nestes dois polos há avanços — o debate sobre a Previdência já evolui
na Câmara; e com o pacote anticrime acontecerá o mesmo, também no Senado. Na solenidade organizada ontem para marcar os cem
primeiros dias do governo, com a presença de Bolsonaro, lançou-seumacoleçãode18decretose projetos, em que há alguns destaques.
Por exemplo, o decreto do “Revogaço”, de desburocratização, e o projeto de lei complementar que afinal formaliza a autonomia
do Banco Central.

É medida- chave para, como nas principais economias do mundo, dar perspectiva de segurança aos agentes econômicos, que deixam
de correr o risco de ações voluntariosas do governo de turno sobre a política monetária. Já o passivo destes cem dias está no
campo político. Assim como Lula não foi eleito para executar o projeto da extrema-esquerda, também Bolsonaro não chegou ao
Planalto para atender cruzadistas, templários, nacionalistas ultrapassados, fiscais de costume etc. Que fique claro.

Ele não deve se esquecer de que se beneficiou bastante do amplo antipetismo, que praticou voto útil e o elegeu. A sua agenda
sectária desagrada a grande parte da população, é bem recebida apenas por nichos. Com sinal invertido, o mesmo acontecia com
Lula e Dilma. Mas eles se beneficiavam do crescimento da economia (Dilma, em parte do primeiro mandato). O crescimento,
Bolsonaro ainda precisa busca-lo, mas só se ajudar a cimentar uma aliança no Congresso que aprove a reforma da Previdência.

Para isso, precisa engavetar de vez bordões de campanha, como o de que ele representa a “nova política”, e o Congresso, a
“velha”. Nada mais dessintonizado da realidade, considerando-se que Bolsonaro militou 28 anos no baixo clero. Pode não ter
feito parte do toma lá dá cá do fisiologismo, o que é positivo, mas isso, por si só, não o designa um “novo político”. Se não
ajudar a montar as alianças —o que, admita-se, se esforça para fazer —, seu futuro é incerto. O resultado negativo da pesquisa
Datafolha é cabal.

O Globo

Ampliar limite para suspensão da carteira de motorista é retrocesso

Proposta do governo só agravará situação no país, que já é um dos campeões de mortes no trânsito

A proposta do governo Jair Bolsonaro de flexibilizar os parâmetros para suspensão da Carteira Nacional de Habilitação é um
prêmio a motoristas que atropelam a lei e fazem do Brasil um dos campeões de mortes no trânsito. Hoje, o condutor perde o
direito de dirigir quando atinge 20 pontos em seu prontuário, por conta de infrações como excesso de velocidade, avanço de
sinal e estacionamento irregular. Para recuperar a licença, precisa cumprir uma série de normas — entre elas, fazer um curso
de reciclagem.

Na terça-feira, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, anunciou a decisão de enviar ao Congresso projeto de lei
visando a aumentar de 20 para 40 pontos esse limite. Ele pretende ainda dobrar o prazo de validade do documento, de cinco para
dez anos. Na semana passada, o presidente já tinha anunciado numa rede social o cancelamento de mais de 8mil pardais que
seriam instalados em rodovias federais, além da revisão dos contratos para avaliar a real necessidade dos aparelhos. São
movimentos que vão na mesma direção do que foi dito na campanha eleitoral, em que Bolsonaro criticou o que chamou de
“indústria das multas”.

Não é este, porém, o entendimento de especialistas em segurança de trânsito e nem do próprio Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transportes (DNIT), que atesta que os radares reduziram em 25% as mortes nas estradas. Na quarta-feira, a
juíza federal Diana Wanderlei, de Brasília, proibiu o governo de retirar os pardais. A suspensão do direito de dirigir quando
o motorista soma 20 pontos foi uma das grandes novidades do Código de Trânsito Brasileiro, sancionado em 1997, no governo
Fernando Henrique Cardoso.

A intenção de uma legislação mais rigorosa era reduzir o vergonhoso número de mortes no trânsito. Nos primeiros anos, isso de
fato aconteceu. Mas, por falhas de fiscalização dos estados, ineficazes em cassar as carteiras, os acidentes voltaram a
crescer — o Brasil registra cerca de 40 mil óbitos por ano. De qualquer forma, flexibilizar as normas só agravará a matança.

O governo deveria estudar formas de reduzir a violência no trânsito, e não de aumentá-la. Ampliar o número de pontos para a
perda da carteira e extinguir os pardais são um retrocesso.

É como engatar marcha a ré quando já se tinha avançado minimamente rumo a um trânsito mais civilizado. Um traço comum entre
motoristas que cometem atrocidades ao volante é a carteira carregada de pontos. O que o governo faz com tais projetos é dar a
esses infratores a bandeirada final.

O Estado de S. Paulo

Momento inadequado

Chega a ser comovente, para quem acompanha há mais tempo seu envolvimento com questões tributárias, a dedicação com que o
economista Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque defende sua ideia de unificação de impostos para a simplificação do sistema
vigente no País e para a redução da carga tributária. Por muito tempo, Cintra defendeu a ideia do imposto único. No cargo de
secretário especial da Receita Federal do Brasil, Cintra está preparando uma reforma no sistema de impostos que tem como ideia
central justamente a unificação de tributos, como disse ao Estado.

Numa segunda etapa, com a participação do Legislativo, o secretário da Receita pretende apresentar uma proposta de emenda
constitucional que unificaria num único tributo federal impostos hoje estaduais, como o ICMS, e municipais, como o Imposto
sobre Serviços. A mudança do sistema de impostos, para simplificá-lo e reduzir seu peso sobre a atividade econômica, é
reclamada há muito tempo pelo setor produtivo e pelos contribuintes em geral.

Mas será este o momento político adequado para propô-la? E será esta a forma mais adequada para mudar nosso sistema de
impostos, taxas e contribuições? Segundo Cintra, cinco tributos federais – PIS, Cofins, IPI, parte do IOF e talvez CSLL –
serão unificados numa única cobrança. Além disso, também será definido o fim da contribuição das empresas ao INSS.

Para compensar a queda de arrecadação, seria criado um novo tributo sobre meios de pagamento, mais amplo que a extinta
Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). Ao contrário desta, o novo tributo incidiria sobre “toda e
qualquer transação econômica, incluindo as que ocorrem fora do sistema bancário”. O secretário da Receita foi bastante
específico ao justificar as diferenças: “A CPMF pegava só as transações do sistema bancário.

Por exemplo, escambo não seria atingido pela CPMF. Pelo uso de papel-moeda também”. Para atingir todas as modalidades de
transações, a legislação a ser por ele proposta estabelecerá que o imposto incidirá sobre todo e qualquer pagamento. As
distorções geradas pelo tributo sobre movimentação financeira – o fato de ser cumulativo, isto é cobrado em cascata, retirar
competitividade do produto nacional e incidir proporcionalmente mais sobre quem ganha menos – e que acabaram por forçar sua
extinção seriam suficientes para colocar em questão um dos pontos centrais da proposta em exame pelo secretário da Receita.

Mas o caráter distorcivo desse tributo, que pode ser acentuado pelo substituto mais amplo que está sendo preparado, é apenas
um dos aspectos questionáveis da proposta. Não há dúvida de que o sistema tributário precisa ser reformado de maneira profunda
e eficaz, para, como prenuncia Cintra, termos tributos mais eficientes e simplificados. Também é do interesse do País que a
carga tributária seja gradualmente reduzida, como projeta o secretário da Receita.

Outro objetivo da reforma, segundo Cintra, é desonerar a folha de salários para propiciar a geração de empregos. É uma meta
mais que desejada, sobretudo num momento em que o País abriga mais de 12 milhões de desempregados e muitos outros milhões de
trabalhadores subutilizados ou na informalidade. O que se questiona na proposta, além do fato de ela se basear no aumento do
peso de um tributo distorcivo, é o momento de sua apresentação.

Só agora a tramitação no Congresso do mais importante dos projetos de interesse do País no momento, o de reforma da
Previdência Social, começa a ser destravada na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, com a apresentação
do relatório do deputado Marcelo Freitas (PSL-MG). Há um longo caminho a ser percorrido até a votação da proposta no plenário
da Casa e depois pelo Senado.

Por envolver interesses de outras instâncias de governo – pois implica mudanças dramáticas na forma de arrecadação dos Estados
e dos municípios –, a aprovação de uma proposta de ampla reforma tributária como a que o secretário Marcos Cintra está
preparando exige grande esforço político e notável capacidade de negociação do governo federal.

Não será de tal forma desgastante iniciar tal debate neste momento a ponto de comprometer outras iniciativas de igual ou maior
relevância para o País?

O Estado de S. Paulo

Dívida, desafio incontornável

Campeão dos endividados entre os grandes emergentes, o Estado brasileiro deverá em 2024 o equivalente a 97,6% da riqueza
produzida no Brasil durante um ano, segundo projeção do Fundo Monetário Internacional (FMI). Pior: isso ocorrerá mesmo se a
reforma da Previdência for aprovada e o teto do gasto público for mantido. O quadro poderá ser um pouco melhor se houver maior
eficiência na gestão das contas públicas, mas isso dependerá de novos padrões na administração pública.

Não há terrorismo nas contas divulgadas na última edição do Monitor Fiscal, uma publicação periódica do FMI. Pode haver alguma
diferença em relação aos cálculos de Brasília, mas a tendência embutida nas cifras é a mesma. O setor público brasileiro nem
sequer tem conseguido, há alguns anos, pagar os juros vencidos em cada exercício. Com isso, os compromissos são rolados, novos
papéis são emitidos, juros se acumulam e o passivo do setor público aumenta sem parar.

Para frear o crescimento da dívida pública, o governo precisará equilibrar suas contas e em seguida obter superávit primário.
O resultado primário reflete a diferença entre receitas e despesas contabilizadas no dia a dia da administração pública, sem
os custos da dívida. Quando esse resultado é negativo, falta dinheiro até para os juros vencidos. Quando positivo, pode-se
pagar pelo menos uma parte dos compromissos.

Não haverá superávit primário enquanto o ralo da Previdência sugar – como ocorre há anos – qualquer sobra acumulada nas contas
do Tesouro. Há expectativa de melhoras. Se o teto de gastos for mantido e a reforma da Previdência passar em 2019, um pequeno
superávit primário, equivalente a 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB), será obtido em 2022. Nas projeções anteriores,
divulgadas em janeiro pelo FMI, o resultado positivo seria alcançado em 2023.

Pelos critérios do Fundo, a dívida do governo geral, no Brasil, bateu em 87,9% do PIB no ano passado e deve atingir 90,4%
neste ano. O governo geral corresponde aos três níveis da administração pública. O resultado financeiro reflete principalmente
as oscilações do poder central, embora os Estados e municípios também estejam em situação difícil e necessitem de mudanças nos
sistemas de aposentadorias. Pelas contas oficiais do Brasil, a relação dívida/PIB é menor, porque os cálculos excluem os
papéis do Tesouro na carteira do Banco Central.

Mas a diferença, próxima de dez pontos, é pouco relevante. Por qualquer critério, o passivo é enorme e a tendência é de
crescimento nos próximos anos. A referência aos números do FMI facilita as comparações internacionais. No ano passado, a
dívida do governo geral, nas economias emergentes e de renda média, equivalia em média a 50,8% do PIB, com diferença de 37,1
pontos em relação à condição brasileira.

Enquanto o governo geral acumula déficits primários, a conta de juros se expande, principalmente por falta de pagamento. A
soma do saldo primário e dos juros dá o resultado nominal, o mais amplo. No ano passado, pelas contas do Fundo, o déficit
nominal brasileiro correspondeu a 6,8% do PIB. A projeção é de 7,3% neste ano e de um recuo seguido até 5,8% em 2024. Nesse
ano, o déficit nominal médio dos emergentes deverá chegar a 4,3%; dos latino-americanos, a 3,4%.

Se essas projeções se confirmarem, a dívida do governo geral ainda será assustadora no segundo ano do próximo mandato
presidencial. Mas as condições de governo serão melhores, se o País tiver avançado no programa de ajustes e reformas. A
confiança dos mercados no País será maior, a inflação permanecerá contida e os juros poderão ser mais baixos.

Se o governo do presidente Jair Bolsonaro falhar no cumprimento desse programa, as dificuldades já serão muito maiores antes
de qualquer candidato se apresentar para as próximas eleições. Ele mesmo poderá, bem antes do fim de seu mandato, arrepender-
se de haver ocupado a sala principal do Palácio do Planalto. A conta será paga pela maior parte dos brasileiros,
independentemente de ter apoiado ou rejeitado a pauta de reformas.

O Estado de S. Paulo

A vitória de Netanyahu

Prevaleceram as velhas táticas do “Rei Bibi”: a excitação do ressentimento de ultraconservadores, da classe operária e dos
judeus imigrantes contra as elites cosmopolitas e a desmoralização dos opositores

Ao conceder a Benjamin Netanyahu seu quinto mandato como primeiro-ministro, o eleitorado israelense optou pelo que entende
como o status quo, prosperidade e segurança, mas a médio prazo isso pode significar a deterioração de ambas.

O crescimento da economia de Israel é superior à média dos países da OCDE. Na diplomacia, Netanyahu se aproximou de países na
África, Ásia e América Latina. Beneficiando-se da ascensão das direitas nacionalistas, aproximou-se de Vladimir Putin e,
sobretudo, de Donald Trump.

Sua hostilidade ao Irã mobilizou a Europa e os EUA contra os projetos nucleares de Teerã e aproximou Israel das potências
árabes. Embora não tenha feito nada para encerrar a ocupação “temporária” dos territórios palestinos, restringiu os
assentamentos nos grandes blocos, apostando na defesa ostensiva e evitando a deflagração de confrontos em larga escala.

Tal ideologia de resignação à insolubilidade dos conflitos na região, restando administrá-los da melhor maneira possível, foi
apelidada por muitos de “antissolucionista”. Como resumiu a revista The Economist: “Temperamentalmente conservador, prudente
quanto à mudança, governa como se Israel não precisasse de qualquer mudança. A economia vai bem para os bem de vida, ainda que
milhões de pessoas não sintam assim. O status quo religioso permanece no lugar, apesar da opinião pública. Como o problema
palestino não pode ser resolvido, ‘viveremos para sempre pela espada’, como ele disse em 2015”.

Tais políticas não foram discutidas nas eleições, nem pelo seu adversário atual, Benny Gantz, nem pelo anterior, Isaac Herzog,
que se restringiram a questionar Netanyahu como o político mais apto para conduzir o país. Prevaleceram as velhas táticas do
“Rei Bibi”: a excitação do ressentimento de ultraconservadores, da classe operária e dos judeus imigrantes de países eslavos e
árabes contra as elites cosmopolitas e a desmoralização dos opositores, sobretudo as esquerdas, a imprensa e os árabes, como
traidores da pátria.

Seus críticos insistem que ele só agravou o chamado trilema de Israel: manter o controle das terras do Jordão ao Mediterrâneo,
um Estado judeu majoritário e uma democracia. Apesar do crescimento econômico, há déficits na saúde e no transporte, impostos
onerosos e crescimento da desigualdade. Sua política do “nós contra eles” acentuou a polarização entre judeus e árabes, judeus
da diáspora e israelenses, asquenazim e mizrahim, e religiosos e secularistas. E sua aliança com Trump provoca fissuras no
apoio bipartidário do Congresso dos EUA e o dos judeus liberais americanos, os pilares de sustentação internacional de Israel.

Com o fim da guerra síria, o Hezbollah e o Irã retomarão suas hostilidades na fronteira norte, e este último dificilmente
celebrará outro pacto antinuclear, como querem Netanyahu e Trump. Quanto aos palestinos, embora não tenha renunciado
formalmente à solução dos Dois Estados, o premiê se inclina para um Estado limitado (e quimérico), no qual os palestinos
“teriam todos os poderes para governar a si mesmos, mas nenhum dos poderes para ameaçar”. Na prática, sua única política é
estimular os conflitos entre o Hamas e a Autoridade Palestina para que não se unam contra Israel.

Vulnerado por investigações de fraude e corrupção, Netanyahu se aproximou ainda mais de facções racistas e extremistas, que
cobrarão suas promessas de campanha, como a anexação de territórios ocupados na Cisjordânia, o que seria catastrófico para os
palestinos e para a estabilidade no Oriente Médio. A outra opção seria buscar uma coalizão mais ao centro com o partido de
Gantz.

Muitos analistas consideram que Netanyahu, mais do que um ideólogo intransigente, é um pragmatista, que transpôs sua política
pessoal de manutenção no poder a qualquer custo para a nação israelense, aparentemente satisfeita com ela. Essa hipótese será
testada como nunca no novo mandato. Já a solução do drama palestino ficará, melancólica ou tragicamente, para um futuro
incerto e cada dia mais distante.

Folha de S. Paulo

Choque de realidade

Frustrações dos primeiros cem dias de gestão e popularidade abalada deveriam servir de estímulo para Bolsonaro corrigir os rumos de seu governo

Completados os primeiros cem dias de sua administração, Jair Bolsonaro (PSL) tem pouco a mostrar para satisfazer as aspirações dos que o elegeram em outubro.

Seria irrealista imaginar que o presidente pudesse apresentar resultados muito significativos em tão pouco tempo, ainda mais quando se considera a inexperiência da maioria de seus auxiliares.

Mas a frustração parece a conclusão inevitável de qualquer tentativa de analisar as realizações de Bolsonaro — e compará-las com as expectativas que ele mesmo alimentou desde sua ascensão ao poder.

Boa parte das metas estabelecidas por sua equipe para os primeiros cem dias foi atingida, mas em geral foram medidas típicas de varejo, de impacto reduzido. Várias ainda precisam receber o aval do Legislativo para entrar em vigor.

Promessas feitas durante a campanha eleitoral, como o decreto que facilitou o acesso a armas de fogo e o pacote de endurecimento da legislação penal apresentado ao Congresso, foram cumpridas.

Leilões para realização de investimentos em infraestrutura alcançaram resultados animadores, mas o êxito deveria ser creditado ao governo Michel Temer (MDB), que deixou os certames organizados. Coube a Bolsonaro bater o martelo.

Outras iniciativas, como o projeto que dá autonomia formal ao Banco Central e a criação do 13º do Bolsa Família, só saíram do papel nesta quinta (11), em evento coreografado para desfazer a imagem de que o governo está paralisado.

Nada parece suficiente para apagar a constatação de que Bolsonaro desperdiçou tempo e o capital político acumulado com sua vitória nas urnas há menos de seis meses.

Eleito com 55% dos votos, ele tem hoje a aprovação de somente 32% da população, segundo o Datafolha. Desde a redemocratização, é a pior marca atingida por um presidente a essa altura do mandato.

As pesquisas do instituto também mostraram que a agenda bolsonarista encontra resistência na sociedade — a maioria se opõe às facilidades no acesso a armas e à leniência com abusos da força policial, conforme noticiou este jornal.

Disputas ideológicas estéreis que contaram com o estímulo do próprio mandatário só contribuíram para acirrar tensões e travaram áreas essenciais como a educação.

Mais preocupante, ganharam corpo dúvidas sobre a capacidade do presidente de promover uma reforma da Previdência que ajude a restaurar a saúde financeira do país e tirar a economia da estagnação.

Bolsonaro apresentou um projeto ambicioso para lidar com o problema, mas claudicou até aqui na tarefa de estabelecer canais de diálogo como Congresso.

Caberá ao presidente extrair dos primeiros cem dias de seu governo as lições necessárias para encontrar um caminho mais produtivo.

Folha de S. Paulo

Cinco vezes Bibi

O primeiro-ministro de Israel, Byniamin Netanyahu, saiu-se vitorioso nas eleições gerais realizadas na terça-feira (9), pleito que acabou se convertendo numa espécie de plebiscito sobre suas mais de duas décadas de vida pública.

Seu partido, o direitista Likud, deve conquistar 35 das 120 cadeiras do Parlamento, conforme as projeções. Trata-se do mesmo número estimado para a legenda centrista Azul e Branco.

Netanyahu, no entanto, poderá costurar uma coalizão com agremiações religiosas e de ultradireita, assegurando para si o quarto mandato consecutivo desde 2009 — ele também havia ocupado o posto de 1993 a 1996.

Com isso, Bibi, como é conhecido, deverá se tornar o primeiro-ministro mais duradouro da história de Israel, superando David Ben-Gurion (1886-1973), um dos patriarcas da independência do país, que governou por 13 anos.

O caminho de Netanyahu para a vitória não foi fácil. Pesquisas de opinião chegaram a dá-lo como vencido, e a sombra de acusações de corrupção o acompanhou durante toda a campanha.

Para superar o cenário adverso, o premiê apostou numa campanha de apelo nacionalista e num discurso pró-segurança. Intensificou ainda a agenda internacional, a fim de se projetar como estadista influente, em viagens aos EUA e à Rússia e na recepção em seu país a Jair Bolsonaro (PSL).

A vitória de Netanyahu, a propósito, representa boa notícia para o presidente brasileiro, que garante pelos próximos anos um importante aliado no Oriente Médio.

O triunfo de Bibi consolida a virada à direita de Israel, acentuada em seu último governo. Nos últimos anos, adotaram-se políticas liberais na economia e uma postura linha-dura contra os palestinos, instigando uma maior divisão entre árabes e judeus.

A discussão sobre as negociações de paz com os palestinos, aliás, foi a ausência mais notável da campanha, dado que o assunto sempre figurou, nos pleitos anteriores, entre os temas mais candentes.

Netanyahu, em realidade, apontou na direção contrária. Em uma de suas últimas promessas, afirmou que, se eleito, anexaria os assentamentos judaicos na Cisjordânia — o que inviabilizaria a criação de um Estado árabe.

Ao cumprimentar o israelense pela vitória, o presidente americano Donald Trump afirmou que ela aumenta as chances de alcançar a paz no Oriente Médio. Entretanto, o histórico do premiê e sua aliança com grupos radicais tornam esse cenário pouco plausível.

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