CPI: ‘Nós caminhamos de forma correta’, afirma senadora Eliziane Gama

Parlamentar fala em entrevista sobre o trabalho de investigação, o atual momento político do País e de ser a única mulher a compor o G7 da CPI (Foto: Jéssica Marschner)

Em entrevista ao jornal do Ceará ‘O Otimista’ (veja aqui e abaixo), a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) confronta a tese da base governista de que há veredito pronto desde o início dos trabalhos da CPI da Pandemia e fala, entre outros pontos, sobre o atual momento político nacional e de ser a única mulher a compor o G7, grupo de senadores independentes e de oposição que formam maioria na comissão.

“Nós caminhamos de forma correta”, afirma senadora Eliziane Gama sobre CPI da Covid

Kelly Hekally – Correspondente em Brasília

Foi nos passos da Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid (CPI da Covid) que Eliziane Gama (Cidadania-MA) evidenciou sua maneira nordestina e aguerrida de ser.

Única mulher integrante do G7, para onde foi convidada pessoalmente pelo presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), a senadora maranhense soma aos 44 anos passagem legislativa pela Câmara dos Deputados, deixada para trás em decorrência de sua eleição ao Senado Federal.

A jornalista casada com um cearense é dona de um perfil discreto no vestir e no andar, algo esquecido quando é momento de atuar enquanto parlamentar. Seu jeito espontâneo, porém comedido, e suas palavras entremeadas nos calorosos e certeiros argumentos vêm contribuindo para a elucidação acerca da condução da pandemia do novo coronavírus no Brasil, objeto de investigação da comissão.

Foi durante o calor de discussões da última quarta-feira (1º) do Senado Federal que Eliziane Gama conversou com O Otimista. No chamado cafezinho do plenário, a senadora indicou que a entrega do relatório da CPI deve se consolidar ainda este mês, fez ressalvas sobre o atual momento político brasileiro e se posicionou sobre seu voto técnico, porém duro no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Confira a íntegra.

O Otimista – Senadora, para onde caminha a CPI da Covid? Será possível a entrega do relatório ainda este mês mesmo?

Eliziane Gama – Sim. Tivemos uma primeira etapa em que nos debruçamos na negligência do Governo Federal, no negacionismo e na imunidade de rebanho. Daí, recebemos uma grave denúncia referente ao pagamento de propina e superfaturamento de vacinas. Entramos nessa apuração mais do dinheiro, da corrupção dentro do Ministério da Saúde. Nessa busca, percebemos que a cada dia tem um fato novo. Mas, dentro das nossas investigações, penso que já temos elementos suficientes para fazer os indiciamentos e encaminhar o relatório para a PGR [Procuradoria-Geral da República], Câmara, por crime de responsabilidade, e à Corte Internacional. Acredito que até o dia 22 nós teremos sim um relatório conclusivo. Mas é aquilo que sempre digo: a CPI já fez um grande trabalho para o Brasil, deu uma grande contribuição no avanço da compra de vacinas, por exemplo. Pressionamos o Governo Federal, a, de fato, buscar vacinas. O resultado é que o Brasil tem hoje um percentual importante da população vacinada. Se a ação Governo Federal tivesse sido com responsabilidade, a essa altura, teríamos a metade da população brasileira totalmente imunizada contra a covid-19. Não temos, infelizmente, mas estamos caminhando para isso.

O Otimista – A CPI da Covid é muito criticada pela base do Governo de já ter um veredito pronto antes mesmo de ser iniciada. Os trabalhos não poderiam ter sido realizados de outra forma?

Eliziane Gama – Nós caminhamos de forma correta. Quando se abre uma Comissão Parlamentar de Inquérito, não é do nada. Uma CPI é aberta em cima de indícios, de informações que possivelmente são reais ou não. Então, há umponto de partida de uma informação preliminar. Vimos claramente crime contra a saúde pública com o Governo Federal incentivando aglomerações, não usando máscara etc. Tudo isso foi apresentado, colocado diante da sociedade brasileira, e foi o embrião para a comissão. Nascemos com isso porque já era um fato diante da população, que ficou constatado. Quanto mais víamos documentos sigilosos e quebra de sigilos, mais chegávamos a essa constatação. Hoje, esse cenário está claro com os depoimentos e os documentos. Vamos fazer o encaminhamento para o âmbito da Justiça brasileira, que vai aprofundar a investigação e naturalmente realizar a aplicação da punição.

O Otimista – A senhora é a única mulher no G7, na cúpula da CPI…

Eliziane Gama – Não foi simples furar esse bloqueio. Hoje, não temos nenhuma mulher membro oficialmente no colegiado, mas conseguimos entrar no grupo do G7. Não é um avanço de uma, duas ou três mulheres. É um avanço das mulheres brasileiras. O que estamos fazendo aqui é para uma maioria, pois a população brasileira é composta mais por mulheres. Sou senadora por fruto de um trabalho lá atrás de outras mulheres. Nosso trabalho na CPI vai resultar no futuro de outras mulheres. A vida é uma progressão. Você vai abrindo portas e caminhos para que novos horizontes e objetivos possam ser alcançados, assim como novos desafios. Foi um grande resultado para o Brasil. As mulheres podem repetir isso nas câmaras e assembleias, no mercado de trabalho, na sociedade. Acabamos fazendo escola para o País. Eu senti isso muito fortemente nas redes sociais e no reflexo que tenho da população brasileira.

O Otimista – Qual a leitura da senhora do atual momento sociopolítico e econômico do Brasil?

Eliziane Gama – Estamos em um momento muito difícil da história política brasileira. Claramente, uma tentativa de conflagrar o País, capitaneada pelo próprio presidente da República, com declarações que dividem a população. Criar dois lados e uma radicalização é muito ruim para a democracia brasileira. É necessário ter harmonia entre todos, respeito às diferenças, à diversidade. Infelizmente, o presidente da República puxou isso para si e promove uma divisão que tem sua expressão na figura do líder maior de uma nação, que deveria unir a população. É muito ruim. Estamos vivenciando um 7 de Setembro que, por exemplo, na minha infância, era uma atividade bonita e cívica. A gente não sabe o que vai acontecer agora no dia 7 de setembro. Isto é de fato muito sério. Em paralelo, temos a inflação de volta, o desemprego, a carne que aumenta o preço, o gás de cozinha que as pessoas não conseguem ter dentro de casa. E, além do problema econômico que vivenciamos, temos um problema de pandemia. Aí, somamos uma situação de ideias de opiniões ideológicas, que o presidente coloca algumas vezes como carro-chefe, não respeitando as minorias no Brasil. Mas eu acho que há luz nos fim do túnel, que no Brasil há instituições muito fortes. Temos percebido que tentam ir contra a Constituição Federal, mas que há punições para essas pessoas, a prisão. Isto está acontecendo. Faz parte da democracia respeitar o outro dentro da liberdade de expressão, que é diferente de caluniar, de espalhar Fake News. Diante do fortalecimento e da funcionalidade das instituições, penso que há luz no fim do túnel. Temos um povo aguerrido e pacífico. Historicamente, o Brasil é reconhecido internacionalmente como um país de paz. Isto faz parte do nosso DNA e vai vencer, vai prevalecer.

O Otimista – A senhora teve um voto muito duro no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Seu voto se repetiria hoje?

Eliziane Gama – Para cada tempo da história, você tem uma posição, uma decisão, uma medida a tomar. É muito complicado eu fazer uma avaliação de como agiria hoje. O fato é que um impeachment é algo muito traumático e acaba resultando no que estamos vivendo no Brasil. Não há dúvida de que o resultado de um impeachment é algo forte para a sociedade brasileira, mas cada tempo é um tempo. Lógico que estávamos todos muito voltados para isso. Houve claramente elementos que estavam envoltos em um processo de impeachment, tanto do ponto de vista do plenário como da sociedade, de crime de responsabilidade. O momento é de compreender que a luta hoje é pela unidade, pela democracia. Se terá ou não impeachment do presidente neste momento não sabemos. O que sabemos é que temos uma eleição ano que vem para os eleitores se manifestarem se querem ou não a continuidade deste governo.

O Otimista – A CPI vai acabar em pizza?

Eliziane Gama – A CPI não vai acabar em pizza. Se acabasse hoje, a CPI já teria dado um resultado para o Brasil. A sociedade brasileira está acompanhando os trabalhos da comissão, que terá um relatório forte, conclusivo e deverá ter continuidade nas demais instituições que o receberão.

O Otimista – Qual a opinião da senhora acerca do comportamento do presidente do Congresso e Senado, Rodrigo Pacheco, diante das ações do presidente Bolsonaro?

Eliziane Gama – O presidente da República estimula uma cisão entre os poderes, que constitucionalmente devem ser harmônicos e independentes. O Rodrigo Pacheco tem um perfil muito pacífico, uma visão muito constitucional. A posição dele em algumas situações, como o pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), mostra que o Pacheco tem sido firme, embora tenha uma relação harmoniosa com o presidente da República. É um papel muito importante para o fortalecimento do processo democrático de direito pela posição dele.

O Otimista – O que a senhora deseja para o Brasil a partir de 2023?

Eliziane Gama – Quero um Brasil de paz, sem briga, sem divisão. Um Brasil de dignidade, de coalizão, onde todo mundo possa se juntar embora tenham as suas diferenças em torno do bem comum, da defesa da vida, economia estabilizada, na defesa do ser humano acho. Quando a gente foca no ser humano, a gente se centra numa qualidade de vida melhor.

O Otimista – Já houve esse Brasil?

Eliziane Gama – Acho que já estivemos muito próximo em alguns momentos. Tivemos no Brasil momentos bons e momentos ruins. A gente tem que aprender com tudo, seja nos momentos mais difíceis da vida ou não. Não há dúvida de que o momento não é dos melhores que vivemos desde a redemocratização, em 1988.

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