Rafaela Soares: Hora de partilhar

Sempre fui uma pessoa sociável que aprendeu a importância da empatia graças ao incentivo da minha mãe à prática de projetos sociais. Além do voluntariado, ela nos levava desde os 04 anos em um projeto que desenvolve com idosos; carinhosamente chamado de ‘’Velho é o Seu Preconceito’’ e tendo como objetivo educar e promover saúde. E ao longo dos anos esses senhores e senhoras viraram os meus ‘’avós de coração’’.

Cada atividade fez o meu gosto por comunicação aumentar e me garantiu uma riqueza de conhecimento que eu jamais adquiriria sentada em uma cadeira escolar. ‘’Escola dá instrução, a vida lhe dá experiência’’, dizem os entusiastas motivacionais. Também me garantiram confiança para tirar as ideias do papel e torná-las projetos paralelos, como dar palestra sobre motivação e escrita para jovens femininas em uma instituição de longa permanência. 

Uma coisa é certa: essa quarentena nos deu tempo. Tempo para refletir sobre as nossas prioridades; tempo para refletir sobre nossos limites físicos e emocionais; tempo para recriarmos formas de contato humano. Outro fato constatado foi: internet hoje é parte dos nossos dias. Eu, como millenial – nascida entre os anos de 1980 até os primeiros 5 anos pós 2000 – acho horrível ficar ‘’fora do ar’’ por 24h; se fosse por uma semana certamente já teria enlouquecido. E não é por aplicativo X ou Y, é pelas infinitas possibilidades ao se estar conectado. Falar com pessoas e postar fotos é apenas uma ínfima parte do potencial que o mundo virtual oferece. 

Assistindo a uma das séries da minha enorme lista montada na Netflix (plataforma de transmissão de filmes, documentários e séries, tal como Amazon Prime) vi um comparativo sobre habilidades entre diferentes os grupos etários. As pessoas eram separadas por idade e depois cada grupo era exposto a atividades para avaliar aptidão física, habilidade tecnológica e raciocínio imediato na tentativa de identificar se existiria a tal ‘’melhor idade’’. Obviamente, comecei a fazer torcida para o grupo da minha faixa etária, entre 20 e 30 anos, já que tenho 23 anos; mesmo simpatizando com o esforço dos idosos. Não contarei o resultado da pesquisa desenvolvida no episódio, porque o objetivo não é esse. Quero somente mostrar o que serviu de gatilho à minha mente criativa. 

Na madrugada seguinte comecei a pensar na enorme experiência que os idosospossuem – e demonstraram no episódio -, comparando-a com a compreensão de mundo virtual dos jovens. Nesse contexto surgiu a dúvida ‘’E se uníssemos os dois mundos?’’. Se eles compartilhassem todo o conhecimento que adquiriram ao longo dos anos resultaria em uma troca muito enriquecedora. 

Ao refletir, identifiquei a internet como o principal empecilho para a troca de conhecimentos; mesmo sendo algo básico como uma receita de bolo de milho até formas de fazer um álbum de colagens com fotos da última viagem em sites de design. Quantas vezes nossos pais/tios/avós já pediram ajuda para arrumar um slide (parte de uma apresentação no PowerPoint)postar no Facebook, abrir o Youtube para ver algum videoclipe ou simplesmente conectar o wi-fi no celular novo que eles acabaram de comprar/ganhar?! Na maioria das vezes – me incluo nisso – nós simplesmente pegamos o aparelho, fazemos a tarefa e depois o devolvemos. Além de impacientes e estarmos privando-os de conhecimento, pior, negamos que eles se conectem de forma independente.

Minha mente criativa com ideias fervilhantes viajou até os primeiros projetos educativos com idosos que participei; pensei em cada um dos meus avós de coração e de como eles já partilharam tanto. Aprendi coisas práticas como receitas de doces alemãs que mal sei pronunciar o nome, fazer cachecóis (zero talento nessa parte, embora minha avó tenha se esforçado), ficar quieta durante a pescaria (não consegui parar de conversar) e a fazer remendos em roupas (graças a avós costureiras talentosíssimas). E o principal, aprendi sobre caráter, respeito, empatia, valores que ninguém jamais tirará de mim.   

Portanto, por que eu não podia usar o meu tempo livre nessa quarentena paraquebrar essa barreira entre o mundo virtual e os idosos? A partir dessa integração, poderíamos aumentar a troca de experiências, transmitir informações úteis e dar a eles mais uma forma de distração diária. Então, arregacei as mangas e comecei a planejar como faria para dar independência virtual a todos. 

Três dias depois surgiu o ‘’IDONET – Tutoriais para idosos na internet’’; um bloco novo no meu canal do Youtube (Rafaville) e mais um projeto na minha lista de atividades paralelas. O objetivo é partilhar conhecimento e permitir que todos se enriqueçam com a troca de experiências. Afinal, mentes criativas estão sempre em busca de novos desafios e formas de se conectarem com as pessoas. 

Rafaela Soares, conhecida no mundo literário como R. Soares, tem 22 anos, é estudante de medicina, escritora, blogueira e youtuber

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